Curumim Pankararu
No dia chamado de ano novo.
Um menino de pele parda do pai índio,
de feições delicadas de mãe branca,
cantava ao microfone uma canção espanhola.
Acompanhado ao som do teclado, executado por seu pai,
e de uma comunicação carinhosa na troca de olhares entre ambos, deixava-nos encantados com a sua interpretação.
Dizem que é o dia de enterrar os ossos. Uma expressão engraçada...
Enterrar os ossos de quem?! Nunca entendi bem.
O vento soprava leve vindo de um mar de águas verdes e mornas, de uma tarde de verão, dessas que não da vontade de sair do lugar.
De repente, o pai índio entra em cena tocando um chocalho e entoando um cântico diferente.
O curumim começa a dançar, pouco a pouco seu semblante vai modificando-se, seus trejeitos transformando-se, assumindo uma postura de índio guerreiro em pleno ritual. Tudo para.
Uma calmaria se instala, é a paz chegando, fazendo-nos respirar profundamente.
Suas mulheres e crianças passam a fazer evoluções dançando o toré, estão felizes...
Novamente a psicosfera modifica-se, uma vibração de quase floresta paira no ar. É um momento mágico.
Seus xamãs, canto de pássaros, gritos de guerra, se misturam.
E assim, ficamos envolvidos numa quase hipnose, reportando-nos há algum lugar do passado, certamente guardado, em nossa memória curumim.