JUNTO AO MAR

Eram largas as calçadas por onde Pedro caminhava. Por ela passavam, também outros Pedros, também Marias, Josés, variados nomes com quem nosso Pedro travava enorme batalha para conquistar um pedaço de calçada. E de pedaço em pedaço poder chegar aonde pretendia.

Trazia consigo um envelope de cor parda, levemente dobrado e encaixado embaixo de sua axila fartamente suada.

Entre o desviar de outros Pedros e tropeçar em algumas Marias, nosso Pedro enxugava, ora com uma das mãos, ora com o recôncavo do braço o suor que escorria por sua face magra e cansada.

As vezes parava e respirava. Os Josés que por ali passavam o empurravam. A urgência das Marias, Josés e outros Pedros de chegarem aos seus sabidos destinos eram impeditivo a pausas em meio a trincheira onde se travavam, diariamente, constantemente, a batalha por pedaços de calçadas. A batalha por poder chegar, ou melhor: a batalha por ter de chegar. Nosso Pedro, então continuava.

Após longa caminhada, por vezes, teimava e parava. Peguntava, ao menos tentava.

O céu fechado, ameaçando chover, no entanto, a escuridão maior não estava em cima, estava nos outros Pedros, talvéz Marias e Josés. Todos sempre fechados, introspectivos. Era o temporal formando-se entorno do nosso Pedro.

O mormaço que sufocavam-os, não encomodava tanto nosso Pedro, como o frio que estranhamente sentia enquanto percorria a calçada que o levava ao 202. Não o 202 dos Campos Elíseos, de Paris, do século XIX, do nosso Jacinto, mas o 202 de uma suntuosa edificação de aço e vidro, firme e transparente, iguais aos Josés, Marias e os outros Pedros.

Era para lá que nosso Pedro levava seu envelope e nele seu pedido de ingresso naquele mundo de única feição.

Na recepção, um parrudo José o fitava, enquanto uma simpática Maria, estranhamente simpática, o atendia. Era uma simpatia efêmera. Logo mudou a fisionomia da recepcionista, quando terminou a análise do conteúdo do envelope.

Olhando-o séria e com um cinismo comum a ela, disse-lhe não. O céu abriu-se ao nosso, já sorridente, Pedro. A voz daquela Maria, voz que rasga o céu, depois de preconizado o clarão, iluminava o verdadeiro caminho por onde nosso Pedro deveria seguir. O de volta.

Pedro não exitou. Retornou. Desbravou com o ímpeto de um bandeirante a larga calçada. Não disputava espaços, abria seu caminho, porque agora sabia onde aportar com o ingresso de lá poder ficar. Na descida da serra, bem junto ao mar.