O menino

E quando uma forte chuva caiu, uma criança atordoada com os sons que a natureza fazia, perguntou ao homem que estava sentado a olhar a água corrente: “Como você não tem medo da tempestade?”. O homem esquivou o olhar do solo e fez um leve para a criança, pedindo que sentasse ao seu lado. E assim ficaram alguns momentos, apenas ouvindo os sons que a natureza fazia. Quebrando o silêncio, o homem falou em um tom suave:

- O que te assusta na tempestade?

- Os barulhos, parecem animais com fome, ou monstros que...

- Mas o que são esses barulhos? – disse interrompendo o menino-

- Eu não sei... Eles me fazem medo, é tudo que posso dizer. – esta afirmação fez o homem dar uma pausa ao diálogo e voltar a olhar a chuva –

- A maioria dos medos das crianças e de muitos adultos são assim – afirmou o mais velho -, não sabemos o que faz o barulho, então associamos com algo de nosso conhecimento e acabamos tendo medo do que nós mesmos inventamos como realidade.

O menino pareceu compreender então ele continuou:

- A pergunta que você me fez é a mesma que me fizeram muitos: “Como encontrar a paz em um mundo tão ruim, com pessoas tão ruins e tantos problemas?” – o menino balançou a cabeça - da mesma forma que a tempestade são as outras coisas que trazem medo aos mais velhos, fazem barulho, e eles não conhecem a origem do barulho, por isto, ficam com medo. E dentro deste medo, olham àqueles que estão calmos e pensam que aquele barulho não atinge os outros.

Terminando esta frase, um forte estrondo fez o jovem tremer, após alguns minutos, ele continuou:

- Estas pessoas terminam concluindo, que para ficar em paz precisam se livrar de todo o barulho e de toda a chuva, afinal, a chuva e o barulho parecem ser a fonte de todos os seus medos. Mas, se você pensar bem, a chuva que cai nos seus pés é a mesma que molha os meus. Ouço tudo que você ouve então a paz não está na ausência da chuva e do barulho.

Sentindo necessidade, parou para que o menino pudesse refletir no que estava ouvindo.

- O que te direi agora, pode te servir como base na vida, guarde estas palavras, mesmo que não as entenda agora, elas podem ser necessárias um dia. - o menino deu-lhe atenção – A paz não é a ausência de problemas ou uma vida em que as tempestades não conseguem tocar, o nosso mundo não é desta forma. Viver em paz é entender o que acontece e por isto não temê-lo. Não tenho medo da tempestade, apenas por que sei o que provoca as tempestades e o que as tempestades fazem. Ela não é diferente para mim, eu apenas a compreendo. Tudo na sua vida vai depender da sua interpretação; as árvores não choram quando perdem as folhas no outono. Elas compreendem que aquilo é um processo natural e o aceitam. Este é o segredo para não ter medo da chuva: compreendê-la.

O menino levantou-se, feliz pela explicação e foi deitar-se. O homem então voltou a olhar a chuva e sorriu.

Daniel Rodrigues Cavalcanti
Enviado por Daniel Rodrigues Cavalcanti em 30/01/2012
Código do texto: T3469515
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