UM GATO DE RAÇA PURAMENTE INDEFINIDA
UM GATO SRD
O Welington, meu filho, sempre gostou de animais. Quando pequeno seu maior desejo era ter um cachorro. Eu e minha esposa sempre resistimos à idéia, mas numa ocasião, não teve jeito.
No Alto da Rua XV tinha uma igreja e, ao lado, uma pequena casa onde morava um casal idoso. Havia muitos gatos naquela casinha, inclusive e, principalmente, filhotes.
Numa determinada ocasião em que lá estivemos, o Welington cismou com um dos filhotes. Gatinho preto e branco com uns 5 ou 6 meses de idade. Tinha umas patas grandes e uma carinha de jaguara.
Quando vimos, o Welington já tinha raptado o bichinho e o levado para o nosso carro.
Meio na dúvida se estávamos fazendo um bom negócio levamos o bichano para a nossa casa e, em lá chegando, acomodamos o animalzinho na lavanderia. Providenciamos um cobertor velho e uma caixa com areia e o colocamos para dormir.
O Welington queria dar a ele um nome sofisticado, estrangeiro, mas a minha esposa palpitou que não combinava com um bicho sem raça definida, para não dizer vira-lata.
Vai daqui e vai de lá começamos a chamar o gato de negrinho, pois o preto era sua cor predominante. Negrinho ficou e Negrinho virou seu nome.
Todos da casa passaram a gostar do Negrinho, mas a recíproca não era muito verdadeira. O bicho era tinhoso; não gostava de colo e nem chegado a carinho. Mordia e arranhava sem a menor cerimônia, fosse quem fosse.
O tempo foi passando e o Negrinho, bem tratado, foi crescendo, crescendo e virou um gato enorme e gordo. O carteiro pensou que o Negrinho fosse uma gata grávida e pediu para nossa secretária doméstica um filhote quando nascessem os gatinhos.
Hoje, o Negrinho é um gato comportado. Não vai para a rua. Só fica no jardim. Mansinho, vive em meu colo.
É a criança da casa e para cada um dos familiares ele se comporta de forma diferente. Quando fica doente só quer saber da minha esposa. Na hora de dormir ele me chama e pede para levá-lo para a cama com uma sacudida de cabeça. Brinca de esconde-esconde com o Welington e só sobe na cama do meu outro filho, Wallace, que é a única pessoa com quem ele deita e se encosta.
Nas manhãs, espera ansiosamente no portão pela secretária do lar, não gosta de estranhos na casa. Tem traumas de infância que Freud deve explicar: não pode ver um cinto que sai em desabalada carreira.
Enfim, ele é um animal muito querido e que nos traz muitas alegrias.
PS: Escrevi este texto há alguns anos. O Negrinho já se foi. Bravo do jeito que era deve ter reencarnado como uma jaguatirica.