Compro pessoas. Qual o seu preço?
Criei uma organização que trabalha com compra e venda. De pessoas. Compro seus princípios. Seus ideais. Suas ideias. Sua honra e sua dignidade. A sua lealdade. O seu caráter. Quem sabe, até sua alma. Compro e vendo. Mantenho algo como um catálogo. Quando alguém necessita de uma pessoa com determinadas características, basta que entre em contato comigo. Por exemplo, um político precisa de um assessor, alguém que venda suas ideologias e suas posições, afinal, na política deve-se estar sempre de um lado para o outro, de acordo com as circunstâncias. Não há como se manter princípios e ideais. “Flexibilidade” é como chamam. No meu catálogo, há muitos que se vendem para políticos. Quase sempre possuo um indivíduo com o perfil desejado. E dou o seu preço.
Quando, por um ou outro motivo, não se encontra em meu catálogo a pessoa que meu cliente procura, saio em sua busca. Invariavelmente, encontro-a. Até hoje não encontrei uma só pessoa que não tivesse o seu preço. Algumas são um tanto baratas. Outras se encontram em um nível intermediário. E, claro, há as que são caras. Mas compro, todas acabam por se vender. E sempre há aquelas que imaginam que valem mais do que realmente valem. Para isso, desenvolvi a minha capacidade de persuasão e a minha diplomacia. Consigo convencê-las do seu verdadeiro preço. Sem ofendê-las, naturalmente. Sou um homem de negócios. Jamais compraria gato por lebre. Não se trata de pechinchar, trata-se de dar a César o que é de César. Estabelecer escalas de valores. Alguns dizem que se trata de colocar cada um em seu devido lugar. Eu não diria dessa forma.
Quando falo em valores, não me refiro necessariamente a dinheiro. Claro, a maioria das pessoas vende-se por dinheiro ou por bens de diversas espécies. Por quantias altas, por quantias médias, por quantias baixas. Depende de quanto a pessoa se valoriza ou de quanto ela vale. Algumas pedem valores altos, e de fato merecem. Mas, como dizia, esses valores nem sempre são financeiros. Há, por exemplo, os que estipulam seu preço como um simples espaço em determinado jornal. Em determinada revista. Hoje em dia, é comum venderem-se por uma participação em um site da net. Às vezes, o preço é apenas uma aparição qualquer em um programa de TV. Obviamente, há os que se vendem por fama. Pelos seus 15 minutos.
No meu catálogo há indivíduos que são comprados por um preço bastante singelo: a possibilidade de estar ao lado de pessoas famosas e/ou ricas e/ou influentes, simplesmente para terem a oportunidade de puxar seu saco. E assim obter alguns favorzinhos. É um preço medíocre, obviamente, mas melhor assim, que os compro com muita facilidade.
Há ainda os que se vendem para obter uma vida segura e tranquila. Para não terem que se preocupar com coisa alguma. Ficar “na sua”, no seu “lugarzinho”, na tranquilidade do lar, tomando sua cervejinha nos finais de semana, tendo que, para tanto, apenas abdicar de si mesmo. Isso é condenável? Eu não os condeno. Eu os compro. E quem condenaria uma pessoa que se vende para poder sustentar sua família? Não só não é condenável, como é algo a ser louvado.
E há também o caso oposto. Os que se vendem porque não querem ficar só no seu “lugarzinho”, mas para estar em todos os lugares que puderem aparecer. Vendem-se pelo sucesso, pelo status social, pelo prestígio, pelo reconhecimento, por um aplauso, por um elogio, pelo olhar tentador de uma mulher, enfim... ainda que, muitas vezes, não há nada neles que mereça algum reconhecimento. Porém, quem disse que para se ter sucesso há que se ter algum valor?
Enfim, há um preço para tudo. Qualquer um pode ser comprado. Todos têm o seu desejo, guardado bem lá no fundo (às vezes nem tão no fundo assim...), pelo qual daria qualquer coisa. Até o que há de mais precioso em si... Ou não? Na obra de Goethe, Fausto vendeu sua alma a Mefistófeles para conseguir o amor de Margarida. E você? Pense no seu preço...
www.artedofim.blogspot.com