" GAÚCHO" - Uma história verídica.

"Gaúcho" foi o nome que botei no meu zaino, um potro

que criei amarrado á ponta de uma corda, com leite de vaca no início,

depois com folhas tenras de verduras cortadinhas, com carinho,com muitos abraços no pescoço e até com beijos nas pontas dos dedos e

depois transferidos com pequenos toques na sua cabeça. Ele ficou

órfão de mãe muito cedo, já quando nasceu e eu tinha muita pena de-

le, por issso meus cuidados, meus agrados. Mudava-o sempre de lugar

para alacançar nelhor pasto, mantendo-o na corda atada num estaca, aquí, alí, acolá ... Á tardinha eu o soltava no pasto grande e

ele saia aos pinotes, como uma criança feliz.

Certo dia, achei que o jovem "Gaúcho", um belo ani -

mal adolescente , precisava aprender a ser montado . E eu resolvi

domá-lo . Agradei-o bastante, tirei seu cabresto de amarra com a

corda e, com muita "conversa" - sim, eu conversava com ele e ele

me entendia coloquei o freio entre seus dentes ; relutou um pouco,

fungou, resmungou e até tentou levantar as patas da frente, mas

eu insisiti e o freio ficou no devido lugar ; depois foram os forros ,

seguidos do selim ( de moça, leve, menor, para ir se acostumando

a atrelamento ), em lugar de uma sela completa. Também resmungou,

mas não adiantou. Ficou selado.

Calcei minhs botas, calmamente e, com relutância,

as esporas, caso precisasse delas, mas não foram necessárias. Ia

lhe explcando o porque de sua "roupagem", enquanto eu apertava a

barrigueira para sustentar o selim.

Montei-o e, para minha surpreza, ele não reagiu,

apenas virou a cabeça algumas vezes, para trás, tentando me ver,

eu acho ,e ter certeza que não era um estranho em cima dele. Deu

umas fungadas, relinchou e, quando eu pensei que fosse empinar pa-

ra me jogar fora, ele saiu andando normalmente. Guiei-o, com as

rédeas e ele obedeceu, eguindo pela estrada central do sítio. Enca-

minhamo-nos por uma trilha para o lado das roçadas novas, onde meu

pai se encontrava, atuando com seus camaradas. Tentei uma trotea-

da e ele saiu-se bem, mas logo mudou de ritmo e deslizou, então vi

que era um cavalo marchador, sem galopes e trotes duros. E assim

foi o início para preparo de grandes cavalgadas que fizemos nós dois,

eu e "Gaúcho", pelos sertões da Alta Sorocabana.

"Gaúcho" tinha o porte altivo de um puro sangue

árabe, esbelto, ventre delgado, denotando ser nobre animal, próprio

de grandes haras e hipódromos. Seu pelo brilhava ao sol, zaino de cor

acinzentada escura, com crinas e cauda longas, esvoaçantes ao ven-

to. Não me cansava de admirá-lo, sentindo que o amava muito,como

se fosse meu filho, e era mesmo minha cria... Pensei : A gente ama

na medida do sacrifício da conquista.

Fogoso, inteiro, não era capão e, no pleno vigor

de sua juventude saudável, enamorou-se e tornou-se par constante

e amante da mula branca, puxadeira de arado, bem roceira, chamada

"Mimosa". Ás vezes davam vexame, quando se amavam animalesca -

mente no pasto, bem próximo da cerca de arame, bem em frente à

porta da cozinha da casa grande , Por coincidências sucessivas, mi-

nha mãe aparecia e, pudicamente, reclamava daquela monstruosa

falta de vergonha, pela afronta sexual , bem na visão dos seus do-

mínios. De tanto ela insistir, meu pai me propôs uma castração para

o "Gaúcho" .

Achei uma monstruosidade e até me causou arrepios, então disse-lhe :

- Deixe-o como está, quero-o inteiro, vai ser um excelente

reprodutor . Ele que se divirta com sua namorada "branquela" e mamãe

feche a porta e não olhe mais para o pasto" . E ainda arrisquei : -

"Seria interessante que nascesse , dos dois, um potrinho preto e

branco , e brinquei : "Seria o meu neto" .

Meu pai soltou uma gargalhada e disse :

- "Tolo , pensei que era mais sabido. Mula é estéril".

Uma grande grafia de um sinal de interrogação

pairou sobre minha cabeça de apenas 15 anos de idade. E eu,surpre-

so perguntei : -

- "Como??? Como que nascem então os burricos ? De mula

com burrico ? "

E ele ;

- "Não de égua com burrico. Já disse que mula é esteril,

não procria. Mas essa é outra história ..."

E foi essa a minha primeira aula de educação

sexual sobre animal irracional.

-o-

ARNOLDO WIECHETECK
Enviado por ARNOLDO WIECHETECK em 18/01/2012
Reeditado em 18/01/2012
Código do texto: T3447552