CUMPLICIDADE MASCULINA
A farra com as meninas, com direito a motel e tudo mais a que temos direito saiu do controle e Marcelo chegou, depois das oito da manhã, com aquela cara desconfiada de quem fez alguma trampolinagem vestindo uma camisa que não era a sua.
Clara notou, mas ficou esperando o relatório que fatalmente acompanhava os deslizes do companheiro.
- Bom dia meu amor!
- Bom dia querido. O que houve?
- Pois é, estou chegando agora porque passei mal.
- O que foi que aconteceu?
- Fizemos serão. Tínhamos que preparar o relatório que Jon vai apresentar hoje na reunião da Diretoria e eu passei mal...
- Como assim, passou mal?
- Você sabe Jon como é. Quando quer uma coisa tem que ser na hora...
- Hum, rum!
- Ficamos coletando os dados até que fome nos avisou que já passava das dez.
- Sim, mas por que você passou mal?
- Lembra daquela barraca de cachorro quente que tem em frente ao prédio?
- Sim.
- Pois é. Jon foi lá buscar uns sanduiches para nós porque a fome estava insuportável.
- Aí você comeu e passou mal.
- Exatamente.
- E por que não ligou para eu ir lhe buscar?
- Jon não deixou. Disse que era um mal súbito e que logo-logo passaria.
- Aí você dormiu na casa dele.
- Pois é!
- E por que essa camisa estranha?
- É de Jon. Sujei a minha com vômito.
- Hum...
- Vou tomar um banho e tratar de dormir, afinal hoje é sábado.
- Vá meu amor, se precisar de algo é só chamar...
- Preciso sim, de você, na nossa cama, estou tão doentinho...
- Não senhor. Vá primeiro se limpar.
Depois que Marcelo entrou para o chuveiro, Clara rememorou todo diálogo. Sabia que o marido não era um santo e essa história estava muito mal acabada.
Se o sistema da companhia era todo informatizado, para quê ficar até mais tarde?
Qualquer solicitação que se faça o sistema entrega imediatamente...
Havia algo, seu desconfiômetro lhe dizia que essa historinha, redonda, sem arestas, era para esconder algo...
Na verdade Marcelo e Jon tinham passado a noite na farra e a mulher que estivera com Marcelo, propositalmente ou não, sujara a camisa dele de batom.
Para que Clara não visse e principalmente para evitar um desentendimento entre os dois, a camisa foi lavada e estava pendurada secando na casa de Jon e eles combinaram a historinha que ela acabara de escutar.
Clara pensou, vou ligar para Jon...
- Oi Jon, me dê notícia do meu marido.
- Menina, não te conto! Ontem ficamos no escritório até tarde organizando os dados para a reunião que vamos ter mais tarde com a Diretoria.
Comprei uma gororoba na barraca de cachorro quente e Marcelo passou mal. Ainda bem que vomitou.
Sujou a camisa toda, mas foi melhor assim.
Agora está ali na minha cama roncando como um porco.
Admiro muito a sua paciência minha querida, porque aguentar um ronco desses, não é para qualquer uma não.
Assim que acordar, mandarei ele para casa. Não se preocupe porque ele está muito bem guardado.
Pena que Renata não esteja em casa para falar contigo. Ela foi fazer a feira do pai dela e saiu desde ontem à noite...
- Hum, tudo bem.
- Um cheiro, minha querida.
Sentada na cama, Clara aguardou que o marido saísse do banho e perguntou...
- O que foi mesmo que você comeu que lhe fez passar mal?
(Esse texto foi produzido em linguagem coloquial, tal como se fala em Pernambuco, sem a preocupação com a forma culta)