MEDICINA ILEGAL
Foi no distante ano de 1974. Adquiri um reluzente Corcel, ano 1971 que pertencia a meu irmão, Renato.
A caranga estava em Belo Horizonte, onde morava o mano, e eu convidei o meu amigo Renê Tortatto para ir comigo buscar o carro.
Pegamos o busão na Rodoferroviária, em Curitiba, ali pelas 10 da noite com destino a São Paulo, onde pegaríamos outro ônibus rumo à Capital Mineira.
Mal o coletivo partiu e uma menina, de uns 10 anos, começou a gemer e chorar. Ninguém conseguia conversar, muito menos dormir, todos preocupados, penalizados e incomodados com o choro da criança.
Fui até o banco onde estava a garota e perguntei para a senhora que estava com ela o que estava acontecendo. A mãe, assim suponho, explicou que a garota havia dado uma topada e arrancado a unha do pé, que havia infeccionado.
Eu tinha um comprimido de analgésico no bolso e dei para a senhora recomendando que ela desse à menina para passar a dor.
Vinte minutos depois o ônibus ficou num silêncio sepulcral. Fiquei preocupado. O que teria acontecido à menina? Estaria passando bem? Teria dormido? Ou, meu Deus, teria desmaiado? Será que o comprimido não era muito forte para uma criança de 10 anos?
Todos os passageiros pareciam estar dormindo. Só eu e o motorista ficamos acordados. O motorista por que estava dirigindo e eu de preocupação. Que tal se a menina tivesse um choque anafilático fruto da ingestão de um comprimido destinado a uma pessoa adulta? Eu seria responsabilizado.
Torcia para que o ônibus chegasse logo em São Paulo para eu descer bem depressa e fugir no meio da multidão.
As sete horas da manhã o ônibus estacionou na Rodoviária de Sampa. Lembrei que tinha que pegar a mala. Não poderia fugir. Teria que enfrentar a situação. Tentei descer apressado, mas fui cercado pela mãe da menina. Pronto! Agora estou frito, pensei.
Para minha surpresa, aquela senhora abriu um sorriso angelical para mim e exclamou:
- Doutor, Deus lhe pague. A menina veio dormindo como um anjo. Quanto lhe devo?
Ufa! Dessa escapei.