Ladra implora por eutanásia.
A jovem faminta não resistindo aos odores estonteantes daquela cozinha, pra lá se encaminha, com todos os sentidos em prontidão. Por um momento espreita, e ao sentir-se segura, desliza sorrateiramente pelo vão da porta, sabendo correr risco de vida, mas precisa desesperadamente alimentar o seu corpo esquálido.
Não resiste a travessa enorme de macarrão regado ao molho vermelho e queijo parmesão, tem perfume convidativo. Passa o dedo na beirada da travessa e de olhos fechados, lambe-se a desgraçada. Lança-se sobre a torta de morango, com a saliva escorrendo pelos cantos da boca. Serve-se gemendo de prazer intenso.
De repente, ouve ruídos de gente vindos da sala; quando dá por si, é tarde.
É abatida por violenta pancada que a lança ao chão. Tonta a ladra cai entre o armário e a parede.
- Eu sou ladra, invasora e culpada, admito. Quisera não mais retornar a vida tão triste. Contorcendo-se em dores lancinantes, implora:
_ Mate-me num só golpe, eu suplico! Não tenho nem força nem razão pra ir embora; em seguida, perde os sentidos.
Quando retorna, se depara com as suas próprias vísceras espalhadas ao seu redor. Enojada vomita; e finalmente, expira.
Morre sem entender o porquê das pessoas com tanta fartura negarem migalhas às baratas.