COMIDA FRIA - mini conto
Ele adorava comida quente, feita na hora, de queimar os lábios; pelo contrário, ele detestava comida fria, de ontem, de fechar os olhos para não ver.
O casamento não ia bem: muitas brigas e discórdias, mas nenhuma traição. Com o tempo e o desgaste, as coisas pioraram. Pensou que a separação era inevitável.
Resolveu ir embora, mudando-se para uma pequena cidade litorânea, sem grandes possibilidades de novo emprego ou mudança radical de vida.
Na pensão de quarto bolorento, com pouca iluminação – e ele se ocupava da leitura para não cair em depressão – a “boia” vinha fria e a “mistura” literalmente se misturava com o feijão e o arroz, com muita banana e peixe de espinha, produtos da região.
Não restou alternativa. Voltou para casa, com a melhor das desculpas: “melhor engolir sapos que comer comida fria”.