Deitou-se o dito cujo e disse:

Deitou-se o dito cujo e disse:

- Alguém me carregue no colo, coloque-me na cama e feche meus olhos; mas, por favor, nunca mais me acorde.

Curvou-se ao Pai e disse:

- Deus meu, Deus meu, por que me fizeste entristecer tanto? Em meus dias, eu curvo pelo teu nome, mas, às noites, eu grito pelo teu socorro. Por que não me socorres? Não encontro mais meios que me façam locomover, nem minha fé atinge o teu trono. Por que, Pai? Tu és o santo, tu és meu, o papai; por que me deixaste? Não sinto mais tua presença, sinto o vazio da vastidão. Oro, mas não sei mais para onde se vão minhas lágrimas. Sei que tu és a minha confiança, pois, aos que clamaram pelo teu socorro, tu apareceste. Mas, Pai, por que não a mim? Os que me olham, são de desconfiança; os que me admiram, são de inveja; os que me abrem a boca, são para me magoar; os que me abrem os braços, são para me deixar... Vejo um conflito que não sei confrontar. Conflito dias e noites com minha pele. Minhas agonias me deixam nos maus pensares, mas penso eu que minhas agonias afligem a lentidão dos meus passos. Estabeleço o bem sempre, mas preencho pelo mal que fazem a mim. Que minhas boas obras me sigam, mas não me contrariem. Se me dão um tapa, viro a outra face. Mal passo eu em saber que passo por dias irrelevantes, à procura do teu socorro. Socorre-me, pai dos abatidos, dá-me a vitamina, pois preciso voltar ao campo de batalha. Ó, pai dos lutadores, dá-me o necessário para voltar-me ao ar querendo sempre me sufocar. Pois não faço o que bem quero, mas faço mal que insisto. Ora, Pai, se faço o que não quero, faço com que a agonia insista em viver em mim. Então, concretizo nos meus pensares que, quando quero fazer o bem, o mal esta comigo. Sei que, mais cedo ou mais tarde, verás que trigo é trigo, e joio é joio. Estou caminhando, não sei para onde, mas para algum lugar devo estar. Mostra-me para onde, Senhor, ou, então, para que lado mudar a direção. Meus passos ficam cada vez mais fracos e sinto que pouco tempo me resta. Não permitas que eu me demore no mal caminho, seja com qual for a intenção, que conheces de cor. No fundo da alma, a aflição parece me dominar, conquistar meus sentimentos; meus padecimentos vêm de dentro e com a força dos torvelinhos do sul. Ajuda-me, Pai, a acalmar a minha sede daquilo que não me esta ao alcance das mãos. Ajuda-me, Pai, a sossegar os formigamentos que corrompem aquilo que um dia foi a paz em meu coração.

Uma voz adentrou em seu cérebro, sem passar, nem mesmo, pelos seus ouvidos humanos, e ecoou os dizeres:

- Que assim seja!

O pobre homem nunca mais olhou aos céus, nunca mais orou ao Pai, nunca mais lembrou das graças que a vida lhe deu. O pobre homem esqueceu de si mesmo, a partir daí.

Renato F. Marques

Renato F Marques
Enviado por Renato F Marques em 07/01/2012
Código do texto: T3428273
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