EM NOME DO PAI

Demorou a decidir, mas, devido a insistência da mãe, Valter cedeu. Se sentia cansado depois do funeral do progenitor, mas ainda assim, Dona Eulária insistira para que o filho fosse com ela até a Casa Geriátrica onde "seu" Valmor viveu os últimos anos de vida. Seria "coisa rápida". Só pra buscar os poucos pertences do "velho".

No caminho, Valter sentia a frieza que o acompanhava ha vinte anos. Desde a briga que separou os dois e fez com que ele saísse de casa sem destino. O tempo passou e Valter ganhou o mundo como jogador de futebol. Fez fama e dinheiro.

Sempre que podia, via a mãe em encontros marcados, mas o pai, este... não passava de um estranho.

Num súbito, olhou para o banco carona e constatou o choro silencioso da mãe. Lembrou do dia anterior; do toque de telefone e da voz fraca do outro lado da linha: "Seu pai morreu". Rapidamente veio e providenciou o enterro, mas não se aproximou do caixão.

Agora estava alí, num silencio respeitoso e... frio.

Chegaram no local indicado. Um alto muro pintado de branco e um portão com detalhes finos logo se abriu. Entraram e foram recebidos pela diretora da Casa, "dona" Geny, uma senhora com cabelos grisalhos e sorriso simpático. Logo depois dos cumprimentos, foram conduzidos a um corredor. Quarto 304. Valter entrou no cômodo e com a orientação da mãe, passou a guardar os objetos numa caixa de papelão. Quando abriu a última gaveta, encontrou um álbum de fotos. Por curiosidade, abriu-o e, surpreendentemente, se viu, retratado em várias fases da vida. Desde a infância, passando pela juventude até... A fase adulta. Um misto de saudade e tristeza invadiu seu coração quando descobriu vários recortes de jornais onde ele, Valter, era a noticia.

O pai... O velho Valmor, acompanhara cada passo do filho, mesmo que a distancia. Sentiu quando uma lágrima teimosa molhou seu rosto. Teimoso, como ele. Teimoso como o pai.