Andei, andei a noite inteira procurando sonhos.
Um apenas que a ti coubesse, que nele fosses qual monarca e eu serva resignada dos teus caprichos e obediente às tuas verdades. Entretanto em nenhum sonho encontrado, cabias assim como o meu senhor, meu amo, redentor. Não passavas de vassalo aos meus pés, de réu condenado ao carcere da solidão e das momentâneas paixões. Sem nunca teres achado amor que te cuidasse, que te aninhasse e preparasse a tua mesa e a tua cama, caminhavas neles como bicho, como triste alma solitária, ias sempre perdido como em um labirinto entre outros iguais a ti, sem saber de fato o bem que é amar e ser amado. Vendo-te assim, um coitado, desvalido, retornei e não quis mais sonhar-te, os sonhos que tenho tido contigo são sempre feios e premunitórios. Então volto ao meu dormitório e leio.
Cristhina Rangel.