UM DIÁLOGO INESPERADO
Sandra entrou naquele ônibus decidida. Não podia. Não devia. O que falar para os pais? Como dizer que simplesmente fora abandonada pelo "co-autor"? Não tinha as respostas. Fizera por amor.
Vitor. Vitor. O amor acima da razão. O amor mais forte que os conselhos. O amor que invade e transforma. Beijos. Abraços. Toques e em fim... Se permitiu. Meses depois... A razão e a consciência no balançar do ônibus.
Olhou através da janela. Lembrou-se de quando falou com ele. O olhar reprovador. O cuspe ao chão e a frase "Não posso. Não devo. Sou estudante. Dependo dos meus pais. Arranque isso daí". Isso!?
Sentiu o desprezo. O silencio. A dor de ser ignorada. Procurou ajuda. A amiga Solange. Um conselho. Aborto. Primeiro repudiou. Depois movida pelo medo, aceitou e agora estava a caminho de por fim "A história".
De repente o ônibus parou num ponto. Sandra reparou quando uma jovem entrou e sentou-se no banco a frente dela. Trazia uma criança. Uma menina. Acomodada no colo da mãe, a criança passou a sorrir para Sandra, que primeiro ignorou, mas devido a insistência do sorriso, passou a sorrir também.
Foram cerca de quinze minutos de um diálogo sem palavras. Só com gritinhos infantis e os sons, até que a mãe se levantou fez acionou o sinal e desceu do coletivo. Sandra ficou.
Sem pensamentos, só em lágrimas. O rosto branquinho e redondo ficou gravado em sua memória. O sorriso desdentado também.
Fechou os olhos. Apertou os lábios e decidiu.
Levantou. Pediu para descer.
Só que desta vez, sem o medo de ser... mãe.