A Aventura de Genival

Ansiosamente ele lia aquele livro de aventura, dois motivos geravam tal ansiedade, o primeiro e mais óbvio era querer saber como iria terminar tão intrigante estória e o outro motivo é que inspirado no livro ele queria partir para a própria aventura. Considera-se que tinha plenas condições de sobreviver sozinho, pois para ele os aprendizados dos livros associados aos conhecimentos que ele já tinha acumulado dos altos de seus 13 anos, eram mais do que suficientes para iniciar uma empreitada sozinho. Até o destino ele já tinha estabelecido, era a praia! Morava no interior de São Paulo e nunca seus pais ou qualquer parente se dignaram a levá-lo para conhecer o mar, ele pensava que já estava mais do que na hora de conquistar esse desejo. Faz uma lista das coisas que vai levar, esvazia a mochila da escola que estava cheia de livros, e enche de biscoitos, sucos, agasalho, bananas e pronto! Também nem que quisesse poderia colocar algo mais ali, já estava lotada. Espera anoitecer, recebe o beijo de boa noite de seus pais e aguarda que eles durmam, aqueles 15 minutos pareciam uma eternidade para Genival, o pobre recebera esse nome dos pais, em homenagem a um cantor humorista que fez algum sucesso no final dos anos 70. O coração acelera, chegara a hora da partida! Desce as escadas, pé ante pé com todo cuidado para evitar qualquer tipo de ruído, opta por sair pela porta dos fundos, que normalmente ficava aberta, atravessa o quintal, pula grade do jardim e ganha às ruas. Nesse momento a emoção de Genival é total, desce a rua correndo como se estivesse sendo perseguido por alguém, dobra esquina e sente que a primeira etapa da aventura estava completa. Precavido havia pesquisado o caminho até o ponto de ônibus que o levaria até a estação de trem. Por ser noite sabe que terá que esperar, pois o fluxo de ônibus é fortemente reduzido durante esse horário, mas nada disso incomoda Genival. A emoção de realizar a aventura tal qual sempre lerá nos livros valia qualquer esforço. Chega no ponto de ônibus, não há ninguém, tampouco uma cobertura para proteger-lhe do sereno da noite. Por volta de 45 minutos depois chega o ônibus, o tempo até a ferroviária, segundo suas pesquisas era de aproximadamente 25 minutos, tempo que ele utiliza para dar um cochilo, pois Genival não tem o hábito de dormir muito tarde. No ponto final o cobrador acorda Genival, que desperta assustado, por um instante não compreendeu o que estava acontecendo. Ri de si mesmo e desce em direção à ferroviária. Compra o ticket sem dificuldade e tem que aguardar a saída do próximo trem que segundo o bilheteiro não demoraria muito. Genival caminha até a plataforma, acomoda a mochila em um banco como travesseiro e dorme mais um pouco, pois sabe que o barulho do trem irá despertá-lo. E é exatamente isso que acontece, ele aguarda o trem parar, entra e nesse momento tem a absoluta certeza que sua aventura será um sucesso. Os demais passageiros se acomodam e Genival vibra por dentro. O trem solta um apito forte, o maquinista dá início a viagem. Por se noite pouca coisa além das luzes da cidade consegue-se ver e Genival embalado pelo balanço do trem e pelo gostoso ruído das rodas em contato com os trilhos, cai em sono profundo. Passado algumas horas o fiscal acorda Genival para checar o ticket e ele tem a oportunidade de ver a beleza da Serra do Mar em pleno amanhecer, com fome abre a mochila e fica saboreando uns biscoitos com uma das mais belas vistas que poderia ver. Um homem que está sentado próximo de Genival tentar iniciar uma conversa com ele, entretanto, precavido Genival não leva adiante a conversa, está focado em realizar seu sonho. O trem diminui a velocidade é sinal que a viagem está próxima do fim. Pela janela é possível ver as casas simples dos moradores da cidade, a padaria já está aberta e algumas senhoras já caminham para a igreja, não querem perder a primeira missa. Genival tem sorte que a estação de trem é próxima da praia, quando o trem passa por um túnel a primeira visão é a imensidão do mar. Sente as pernas tremerem e o coração bater mais forte. Desce do trem e sai em total disparada na direção do mar. Aproxima-se de uma barraca e pede para a Dona guardar sua mochila e as roupas, pois ele já estava com o calção de banho. A areia fresca da manhã não queima seus pés, a praia vazia parecia uma homenagem ao bravo Genival, que correu em até o mar sentiu aquela água fresca tocando seus pés. Curioso ele se abaixa e coloca um pouco d’agua na boca para confirmar o gosto do sal, sorri e nada para dentro do mar, nada com alegria do sonho realizado, da emoção de ver uma água sem limites. Pergunta-se, por que sempre lhe privaram de algo tão bom, foi nadando e sentindo uma total liberdade a certeza da aventura conquistada, mas não foi atento, nadou tanto que ao olhar para trás viu que estava muito longe da praia, ele tentou, fez o que podia, mas seus braços não já cansados não aguentaram, ele desiste, desce da folha d’agua, seu corpo vai até o fundo. Nesse momento Genival, menino bom, de boa índole, vê seus avós que há muitos anos já haviam desencarnados, Genival por um instante fica sem saber o que está acontecendo, mas o aconchego de seus avós o acalmam e Genival sem saber ao certo onde estava e porque, somente sabia que estava em um lugar melhor. Novamente Genival é premiado, pois agora está num lugar onde a felicidade realmente existe.

DVM
Enviado por DVM em 27/12/2011
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