Meu Pai...O Seminarista... E Eu
Ano de 1981.
Uma pequena casa, em um pequeno sítio, morávamos eu e meu pai.
Meu pai, ainda se encontrava um pouco lúcido, antes de perder totalmente a memória após a morte da minha mãe.
Eles viveram uma união estável durante trinta e cinco anos.
Devido a este fato, meu pai optou por se isolar do mundo.
Sempre nos alertou para o pre-conceito existente contra as pessoas que não eram casadas. Ele tinha medo de nos deixar ir nas igrejas,pois achava que os padres iriam nos discriminar.Não só os padres, mas as famílias consideradas certinhas e dentro dos padrões.
Tanto meu pai, quanto minha mãe, tinham muita fé em Deus.
Nossas orações, eram feitas dentro da nossa casa.
Havia mensalmente a missa na igreja do povoado de São Pedro do Taguá. Igreja que ficava a dois quilômetros da nossa casa.
Mesmo a contra gosto do meu pai, passamos a frequentar as missas.
Não dava pra sentir a discriminação que meu pai previa.
A mente dele o condenava... ou, a sociedade...
No ano de 1981,Às vésperas de um Natal, tentei convencer o meu pai a receber um seminarista em nossa casa, para ele jantar conosco.
Meu pai não se dobrou tão fácil. Falei para ele que o seminarista era muito educado, e que já era hora dele parar com a resistência contra os nossos padres.
Após aprovação, preparei o jantar para esperar o seminarista.
Convidei três amigas para nos fazer companhia.
Meu pai ficou muito feliz, bateu um longo papo, e eu agradeci a Deus por ele ter vencido a barreira criada dentro dele.
No dia seguinte, eu perguntei ao meu pai se ele havia gostado do seminarista.
E ele me respondeu: _ Eu gostei muito do moço, minha filha.
O moço é muito bom, mas ele não vai ser padre não !
Espantei-me, pois a celebração do seminarista era muito bonita.
Sem saber o que levara meu pai a esta conclusão, achei infundada a opinião dele.
Em Janeiro de 1982, recebi uma carta do seminarista, e na carta ele dizia que havia decidido deixar o seminário, pois percebera não ser a sua verdadeira vocação.
Lastimei a perda de um futuro Padre, mas não pude deixar de ver que os mais velhos, sempre tem uma visão mais aguçada para a vida, e que meu pai era um grande sábio.
Maria Helena Alves Lamanna
Rio Preto-MG