O velho.
Ele não sabia mais o que dizia. Estava cansado, exaurido de si mesmo,
da sua alma entorpecida pelos tonéis do tempo, das suas histórias de idas e vijndas sem fim. Tinha andando anos a fio atrás de coisas
que não sabia o que seriam, mas devia achá-las, seja lá onde estivessem.
Suas rugas diziam bem mais do que todas palavras. O andar cansado,
triste, de ossos cabisbaixos, pedia paz, pedia sossego. A noite já
estava desnudando seus sonhos quando o velho acordou. Meio
cambaleante, grande parte por obra do gim tomado até
o gargalo, ele foi ao banheiro. Ao ver a sua imagem no
espelho, teve uma crise de choro que durou alguns infinitos
minutos. Sua pele estava empedrada, turva, com galhos
saindo pelos poros feito gazela foragida. Vendo aquela
imagem grotesca, funesta diria, o velho quis morrer.
Mas isso seria bom demais para aquele momento.
Olhou firme para o ralo da pia e colocou o dedo lá.
Foi sugado inteiro pelo ralo. E nunca mais foi visto.
Alguns ainda têm saudade do seu ronco forte, dos
gritos que dava quando o gato rajado da casa da frente
vinha aporrinhar sua paciência nas tantas madrugadas
insones. Um dia ele volta, volta sim.
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