Outra conversa entre mulheres

Mil novecentos e setenta e quatro. Quatorze anos e meio e o primeiro amor. Era essa a idade de Carolina quando ficou grávida. As bonecas de estimação ainda enfeitavam a cama. O quarto, território proibido para adultos, guardava a imagem da infância nos porta-retratos. Na mochila da escola havia uma coleção de lápis.Queria ser professora.

Não tinha noção do quanto sua vida mudaria a partir daquele instante, quando atendeu ao insistente, quase derradeiro pedido do namorado para que lhe desse uma “prova de amor”. Sempre o mesmo pedido. A mesma intimidação.Truque barato.

Dizem que a ignorância faz mais filhos que o amor. Não quero ser cruel. Penso que,naquela época, a ingenuidade fazia mais.

O namorado partiu, aparentemente, sem sentir remorso. Foi a forma que encontrou para não encarar a própria covardia.

Olhando para o espelho do guarda-roupa, Carolina pensava numa maneira de contar para a família sobre o acontecido. Como se sentiu sozinha ...

Como desejava imaginar que aquilo era uma história de faz de conta e que, em algum momento acordaria. Não acordou. Nem dormiu.

Foi um alvoroço quando todos souberam. Uma decepção para alguns, os pais são os maiores “culpados” pelo ocorrido, pensavam...

Não se comentava muito o fato, mas a inquietação se fazia sentir.

Carolina não podia parar o tempo como antes, quando ficava sentada embaixo da mangueira a observar os dias que iam passando lentamente.

Uma tarde sua avó chegou para visitá-la. Certamente já sabia da novidade e lá vinha outro sermão.

A menina-mãe se encolheu no sofá, garganta seca e mãos úmidas. Roia as unhas nos cantinhos.

Dona Marta se aproximou, beijou-a na testa, como de costume e perguntou:

_ Como vai querida? Está se sentindo bem? E sorriu.

Carolina, surpresa com a calma da avó respondeu:

_ Estou bem vovó. Só me sinto um pouco enjoada e inchada.

_ Isso é normal Carol.

_ Você vai fazer um sermão, vovó?

_ Não minha querida. Vou lhe ensinar como se dobra uma fralda.

Carolina respirou. Não precisava mais de caras sérias e palavras graves,mas de ajuda e de um olhar que lhe dissesse " não desista menina, tudo vai acabar bem".

A vida é uma dádiva. As avós são um presente de Deus.

Mariacris
Enviado por Mariacris em 20/12/2011
Reeditado em 12/07/2013
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