A MOÇA DA PRAÇA

Todos os dias na sua hora do almoço, costumava ficar ali, sentado no banco da praça. Era para descansar um pouco e fazer a digestão, justificava aos amigos que sempre queriam saber o por quê dessa mania.

Na verdade, era segredo seu. Ia à praça para ver aquela moça passar. Era de estatura média, quadris largos e lábios carnudos. E ele a olhava e imagina o que poderia acontecer se um dia, apenas um dia que fosse, aquela moça lhe desse atenção.

Usuário do transporte público, não tinha um dia que não tomasse o metrô já com superlotação. Dessa sina não escapava, como todo trabalhador, e certo que sua cidade, tão amada e querida, não recebia, por parte dos administradores públicos, o mesmo carinho que ele lhe outorgava. Assim, por muitos anos, não havia meios, por mais que evitasse, de não ficar encostando em alguém. E ele não negava que às vezes até gostava, pois isso lhe despertava desejos e fantasias com a moça da praça. Suas curvas, seu cheiro, suas ancas, salientes e vistosas, despertavam pensamentos libidinosos que ao chegar em casa, como um garoto com os hormônios à flor da pele, se trancava no banheiro e ali se deixava em completa entrega.

Aquele dia se mostrou especial. A moça da praça passou mais lentamente. Seu vestido vermelho e um pouco a cima dos joelhos, marcavam sua silueta. Justo ao corpo, realçava as marcas produzidas pela calcinha. O soutien tipo taça, mostravam aqueles seios pouco à vista que, pelo decote, caprichosamente produzido, denotava e mexiam com a imaginação dos homens que cruzavam seu caminho. E ele se sentiu premiado. A moça da praça passou e olhou. E já tomado de fantasias por vezes revividas, olhou-a e sorriu, porém, a retribuição não se concretizou e ele, sem graça, nada fez, apenas acendeu seu cigarro e tragou. Nada pode fazer, saiu e nunca mais foi visto no banco da praça, e a moça, a razão das suas idas aquele espaço, por muito tempo fora vista por ali até que, soube-se por acaso, que ela voltara a sua terra natal, triste a solitária, pois aquele que a fazia todos os dias ali passar, havia deixado a cidade e ela lamentou não terem se falado. Há quem diga que foram vistos noutras praças, um a procura do outro, mas nunca se encontraram. Mas isso não se pode provar....