RECLUSÃO: NÃO DA PRA IMAGINAR
RECLUSÃO: NÃO DA PRA IMAGINAR
“Aqui é só Jesus”, está frase me fez sair do meu lugar e querer escrever sobre meu irmão, ele me disse esta frase hoje, quando conversávamos sobre sua prisão, sua reclusão, disse a ele que pensasse bem, para quando sair não voltar mais para a prisão, aí ele me disse “não volto, não. Aqui é só Jesus”, falei – imagino, ele retrucou “não da pra imaginar” e aí isto me cutucou, porque escrevo sempre sobre meus conflitos, conflitos alheios e como muitos às vezes fico alheia a realidade do mundo, das pessoas a nossa volta, meu irmão Wilson, tem 34 anos, esta em reclusão há uns três anos, neste período eu não me imaginava indo a um presídio, enfim, fui uma vez e ainda não consegui voltar, prometi a ele que volto até o fim do ano. Vou cumprir minha promessa, mas tal decisão me tira o fôlego, porque quando estive lá a sensação foi terrível e deprimente, aqueles muros enormes, o constrangimento que a família do detento passa para entrar, parece que somos culpados por eles estarem presos. Depois que consegui entrar, vi meu irmão, ele estava muito diferente do irmão de outrora, agora ali trancafiado, cumprindo as regras da sociedade, do sistema, por ter claro infringido a lei. Fiquei e fico indignada com o sistema prisional no Brasil, as leis não mudam. Ele escondendo a sobra de comida que levamos porque a comida vem estragada, bom pra que serve os direitos humanos? Uma coisa é cumprir a pena que o sistema impôs, por cometer um ato criminoso, outra coisa é viver em condições sub humanas como vivem os detentos no sistema penitenciário brasileiro. Como sou uma cidadã brasileira cumpridora de meus deveres, sei que temos direitos e deveres, porém quando se infringe a lei, você deixa de ser “cidadão” e passa somente a ter deveres e não mais direitos. Penso que desta forma reabilitar um ex detento fica difícil. Podem pensar, há tem que fazer o correto e pronto, mais só isso não basta, é preciso ir além, porque além de saírem marcados, marcados para a vida, são marcados pela sociedade, pela família, pelos amigos que restam. Escrever sobre este assunto me tira um pouco do eixo, porque falar das questões inerentes ao que vivo é fácil, mas esta realmente é uma ferida exposta na sociedade brasileira e hoje felizmente ou infelizmente em minha família, como em tantas outras famílias brasileiras, onde as mães buscam respostas, se perguntam onde erraram na criação dos filhos, os levando a atos insanos, que os levam ao cárcere, mas a partir daí, o cárcere não é só do detento, é também da mãe, do pai, da família que ficam subjugados por todos, a sua volta, por vezes têm vergonha de dizer que tem um parente preso, encarcerado, mas como decidi falar de tudo, exponho também esta ferida.