(Sem titulo)
Paulo saiu do edifício e abriu o guarda-chuva, o que lhe pareceu um pouco inútil, pois não chovia, garoava. O guarda-chuva era imenso, como uma barraca negra sobre sua cabeça. Ele esperou por muito tempo, mas ninguém apareceu, já estava sendo “vigiado” por alguns moradores que o olhavam torto julgando sua atitude um tanto suspeita. Inclusive a senhora velhusca usando um hobby de seda puída, o olhava feio com o cigarro no canto da boca manchada de batom, começara a incomodá-lo. E agora estava ali, na “chuva”, sob aquela espécie de barraca negra de 9,99. Começava a escurecer, ele se preocupou, o bairro era precário e decidiu esperar ali mesmo, do lado de fora. Encostando-se na parede, Paulo percebeu que um Toyota Corolla do ano o rondava, cujo motorista parecia estar muito interessado em alguma coisa ali, já que era a terceira vez que passava, quase parando. Paulo fechou a jaqueta e fez cara de quem espera por algo ou alguém, o carro quase parado em sua frente, olhou o relógio para disfarçar e disse ao vento “Puxa, que atraso!”, deu um olhada de canto no veiculo escuro e cruzou os braços. O carro finalmente saiu, Paulo estava cansado, suas pernas doíam e seu rosto congelava, parecia ter esperado o dia inteiro. Já havia esquecido o propósito daquilo, não sabia mais o porquê e pelo o quê esperava, perdeu-se de seu objetivo. Enfiou a mão no bolso e tirou o bilhete anônimo, “Tal hora, em frente a tal lugar.” E isso era tudo. Paulo pôs-se a olhar para a lâmpada defeituosa de um poste que piscava, a movimentação na rua estava parada, hora ou outra passava um carro com som alto, mas nunca alguém a pé. Do outro lado da rua, sob o chão molhado havia um mendigo dormindo junto a uns sacos de lixo branco. Paulo olhou o mendigo e se perguntou como não o havia notado antes. Ele estava gripando. Amassou o bilhete na mão esquerda e jogou na calçada. Abriu a “barraca” sobre si e andou em direção ao metrô mais próximo. Chega, chega de esperar.