O Garoto

A mãe havia comprado um grande e delicioso pote de sorvete de creme, com cobertura de chocolate, uvas passas, granola e muitos doces coloridos pra acompanhar.

Era uma tentação e um perigo abrir a geladeira por qualquer motivo que fosse, pois sempre que assim fazia, o garoto largava o que estivesse fazendo e vinha correndo até a cozinha implorar a mãe que o deixasse provar um pouco de toda aquela fartura.

Naquela manhã, porém, nada do que fizesse parecia adiantar.

Mesmo assim, o garoto choroso insistia:

- Ah, me dá mãe! Eu quero sorvete. Eu quero...

- Já disse que não! - Repreendeu a mãe - Está quase na hora do almoço e daqui a pouco o seu pai vai chegar. E ele gosta de ver todo mundo na mesa na hora certa pra fazer a refeição.

E o garoto teimava:

- Mas eu quero! Eu quero!

Tentando não perder a calma, a mulher procurou dissuadir o filho propondo uma brincadeira:

- Olha filho, vamos brincar com a mamãe e mais tarde eu prometo que lhe dou uma bola bem grande de sorvete de creme com tudo que voce tem direito, está bem!

O garoto que não era bobo, logo pareceu se conformar.

Guiado pela mãe, foi até seu quarto para escolher algum jogo que pudesse lhe distrair da melhor maneira possível.

A mãe então lhe perguntou:

- Voce quer brincar de que?

- Quero brincar de papai e mamãe.

- Ótimo! - Entusiasmou-se a mulher. O garoto continuou:

- Então a senhora deita aí na cama que eu já volto...

Correu rapidamente até o outro cômodo da casa, indo direto ao guarda-roupas do pai.

De lá voltou vestido numa camisa xadrez onde se perdia, com uma gravata listrada a lhe cair até os joelhos, e um enorme sapato social onde se equilibrava a cada passada.

Olhando para a mãe deitada pacientemente na cama, se aproximou dizendo de uma só vez com a voz firme e autoritária:

- Mulher, se levante daí e vá dá sorvete ao menino!