O Diário De Tereza
O Diário De Tereza
Uma mulher tingia de tristeza as paginas amareladas de um velho caderno. Ele era sua voz, seu grito, sua alma. Era o seu diário. E nele, ela escrevia assim:
"O bem foi para o bar, eu sei que muitas mulheres não gostam que seus maridos freqüentem esses tipos de lugares, mas pra mim, realmente é um alivio, pois sou dele uma escrava, sofro constantemente violências, de todos os tipos possíveis e inimagináveis, e de mim não sou mais dona. Sou sozinha, meu pai morreu quando eu ainda era uma criança. Não posso ver minha mãe, pois meu marido não deixa. Com medo de que venham à tona todos os abusos a que ele me submete. Estou cansada, às vezes penso que pra mim a morte seja a melhor solução, pois não estaria sofrendo, meu corpo cansado... em poucos dias se desfaria e já não sentiria mais dor alguma. Sim, mas, morrer não. Por mais detestável que essa me seja, ainda amo a vida. Só peço a Deus para me livrar desse tormento porque não gostaria de perdê-la nas mãos do carrasco do meu marido. Minha letra está trêmula e um verdadeiro garrancho, é que não estou conseguindo enxergar direito devido ao fato de ter ganhado um soco no rosto. A sua maçã está inchada e roxa, mas agradeço a deus o fato de não estar cega. Por pouco isso não acontecia. Está doendo muito! Cada latejada doe até no meu peito.
Daqui a pouco, a porta da sala se abre e trazem robertão bêbado. jogam ele no sofá e ali mesmo, graças a deus ele dorme. Hoje não encosta mais a mão em mim. Disse que ficou com pena do tamanho do estrago que fez em meu rosto. Canalha!Cretino!Isso por que eu fui fazer o jogo de bicho e me esqueci de jogar os números que ele me pediu, resultando na perda de 500 reais. Eu gostaria muito de me defender. Mas sou muito frágil, estou ficando cada vez mais fraca. Minha auto-estima, não mais existe. Minha aparência é de uma mulher de 50 anos... Tenho 26. Gostaria de me cuidar melhor. Vestir roupas mais femininas, arrumar o cabelo, passar batom, perfume... Mas o robertão tem muitos ciúmes. Ele diz que se eu me arrumo assim, com certeza é porque quero um amante.
Estou sozinha e poderia muito bem fugir, mas a porta está trancada e todas as janelas estão fechadas. Até quando?Até quando permanecerei nessa vida meu deus?Trancada e apanhando? O meu dia a dia ao lado desse canalha é um verdadeiro pesadelo. Um pesadelo terrível que eu temo que jamais tenha fim. Tenho que limpar a casa, lavar as roupas dele, e fazer o almoço no tempo certo. Sei que toda a dona de casa faz isso, mas não sob o olhar duro e ameaçador de um marido que está ao seu lado, como cinto na mão, pronto para castigar todas as partes do corpo da mulher caso algo não esteja do seu agrado como o meu marido. Bem, ultimamente graças a deus não tenho apanhado mais por causa do almoço. O meu arroz está ficando impecável. Aprendi a não deixa-lo amigo, ele não agarra no fundo da panela e nem o esqueço mais no fogo. Adoraria poder tirar um soninho depois que termino todo o serviço da casa. Mas Robertão não deixa.
Esse casamento, quer dizer, esse casatormento já dura seis anos. Sou uma louca de ainda não ter dado um fim nesse inferno e estar suportando-o até agora, mas é que eu morro de medo do meu marido. Quanto mais medo tenho, mais ele me bate. Robertão gosta de me ver pra baixo, humilhada. Ele ri quando me joga no chão com um tapa e estou tentando me levantar. Um dia ele me disse que duvidava que até isso eu conseguisse fazer. Não resisti. A raiva fez com que eu me levantasse, tirei os cabelos do rosto, voei sobre ele feito uma fera e unhei a cara dele. Levei a pior, é claro, pois ele me espancou. Foi a maior surra que levei até hoje. Deu-me Oito pontapés na barriga, me quebrou uma costela e dois dedos. É de não se acreditar, mas aconteceu!Disse que dispararia sobre mim as balas do seu revolver caso eu fosse ao hospital. Fiquei com medo e mesmo passando muito mal, resolvi ficar em casa. Tinha visto a arma no dia anterior. Estava mesmo carregada. Robertão pensa em me matar!Ai meu Deus! Isso foi á três meses. Naquele dia eu tive febre e até pra respirar estava difícil. Precisava mesmo fazer muita força. Por um milagre do meu senhor Jesus Cristo, o próprio robertão no outro dia me levou no hospital. Tratando de contar a sua versão dos fatos e fez isso tão bem que não deixou dúvidas em ninguém. Os médicos e enfermeiros me atenderam muito bem. Foram muito carinhosos comigo. Um desejo muito grande de não voltar para a casa se alojou em meu coração, mas eu teria que ir. Como escaparia daquele homem?Desde então venho pensando em fugir.
Pois a minha casa, o meu lar, um lugar onde eu deveria me sentir segura, é onde eu sofro agressões físicas e piores. Que são as morais. As feridas que ficam em nossa alma e nos nossos corações não se cicatrizam.
Eu não mereço isso. Sei que varias outras mulheres sofrem o mesmo que eu. Sei que algumas já denunciaram, outras se livraram dessa terrível situação e superaram tudo, mas outras são da opinião de que devem agüentar as agressões em nome da estabilidade familiar, pois apesar de estarem sendo agredidas ainda amam seus maridos e consideram que a vida ruim, seria pior sem eles.
As vezes me pergunto:Por que estou sendo agredida? Nenhum motivo justifica as bofetadas que ele me dá. Será que é a bebida?
Ou será que são os ciúmes?Será que existe algum órgão que me proteja?Ameacei o robertão de denunciá-lo, mas ele me disse que bater em esposa e namorada é errado, mas não é crime.
Meus vizinhos escutam discussões, choros, meus gritos de socorro, mas ninguém se sensibiliza. Pensam que não é nada sério. Não querem intervir porque ainda são da opinião de que em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Sou muito boazinha com ele e mesmo assim, ele não me trata bem. A sua família não está passando por nenhum problema, pra ele falar que fica nervoso, preocupado com os seus e desconta em mim. O robertão não tem nenhuma dificuldade no emprego e está recebendo muito bem. Apesar de estar sendo maltratada desse jeito, não me recuso a ser dele uma noite sequer. Então não entendo meu Deus!Porque estou sendo agredida?Ainda bem que não temos filhos!pois eles seriam os que mais perderiam diante de toda essa situação. Viveriam assustados, chorariam de ver a mãe apanhar. Cresceriam revoltados, com ruim desenvolvimento escolar e pior. Poderiam querer seguir o exemplo do pai e agredir companheiros
(a)s quando os tivesse.
Esse assunto é muito constrangedor e nauseante, mas não tenho outra forma desabafar, á não ser escrever nesse caderno, que fiz de meu diário. Não converso com ninguém, não tenho amigos. Algumas pessoas, as que me conheciam, não se aproximam de mim, com medo do meu marido. Por isso eu preciso colocar essas coisas no papel. Nossa! E estou achando que só esse caderno não será suficiente para expor minha dor, meu sofrimento e angustia, sentimentos que matam se ficam presos no peito."
Dona Quinina enxugava as lagrimas que caiam dos seus olhos.
- Pobre menina! Como agüentou passar por tudo isso?
Cada Pagina virada configurava em uma facada no seu coração.
Cada vez mais curiosa pra saber o fim daquela triste história, folheou as paginas do caderno e descobriu que elas estavam todas preenchidas. Fechou, abriu, fechou e tornou a abrir de novo, sem coragem para ser a leitora de fatos tão trágicos e curiosa para saber o seu final. Teria que ir adiante. Será que a sua protagonista ainda vivia?No seu ponto de vista, era muito pouco provável diante do que lia. Viu que algumas linhas não tinha relato algum. Faltavam letras quando ela ia dar continuidade dos fatos... Tinha muitas reticências... Porque será que Tereza deixava espaços em branco?
Três folhas depois a senhora descobriu que era na hora em que o agressor gritava seu nome , a vitima se assustava , borrava o que estava escrito e escondia o diário em baixo da cama , pois caso esse fosse encontrado, com certeza , nada de agradável aconteceria.
Admirada, ela passou a dividir a leitura com as amigas, que se mostravam bastante interessadas.
- E o que mais você descobriu aí comadre?
- Escuta só o que vou ler.
" chegou o sábado. Acordei sem o meu marido do lado. Ele com certeza já teria ido para o bar. Fiz todo o serviço da casa na maior rapidez para terminar tudo mais cedo e descer pra pracinha a fim de pegar um ar. Também sou filha de deus, não teria como eu não aproveitar um dia tão lindo como aquele. As mães passeavam com seus filhos, empurravam seus triciclos, ou brincavam no balanço. Vendedores de algodão doce e de balão começaram a colorir todo o lugar onde estava. Ai que delicia!eu estava adorando. Sentia uma paz tão grande!uma felicidade!algo que á algum tempo eu já não conhecia. Isso durou até aparecer o meu marido. Tão encantada estava que só percebi a sua presença quando suas mãos pesadas me agarraram pelos cabelos , e me sacudiram , empurrando-me em direção ao prédio que eu morava. Eu chorei, perguntei a ele o motivo de tal agressão já que eu não tinha feito nada e ele me esbofeteou.Me perguntou o que eu achava merecer por estar na rua ás 3 da tarde , a toa , sem fazer nada.Eu lhe disse que já tinha feito todo o serviço de casa e perguntei o que ele queria ? perguntei se ele queria que eu aceitasse passivamente o fato de ficar sozinha todos os dias, vinte e quatro horas da minha vida, já que ele não me dava atenção , não conversava comigo...não ficávamos mais juntos.
Robertão se irritou ainda mais por eu questiona-lo e apertou meu braço, a cada degrau que a gente subia, ele apertava mais, não se importando com os meus gemidos. Pois só largou quando a gente atravessou a porta e ele a trancou. A unha dele rasgou a minha pele. Meu braço está roxo, não posso nem encostar. Meu choro se intensificou ainda mais. Impiedoso, ele gritou para que eu calasse a boca. Não obedeci. Robertão, o meu marido, meu algoz... foi na cozinha , pegou um vidro de pimenta e despejou cinco gotas do tempero sobre a ferida que ele acabara de fazer. Gritei como louca, como uma condenada, pensei que desmaiaria. Pensei que aquilo não poderia agüentar. Com as pernas bambas consegui chegar até o quarto. Não, por nada no mundo poderia permitir passar por mais torturas e tranquei a porta do quarto, desejando mata-lo. Só desejo mal a ele e por mais que ele me faça, não sei por que não queria que ele sofresse. Acho que o amo.
Acabou o meu sábado, e o meu domingo. O único sábado que eu tive dentro de não sei quantos meses. Sinceramente não me lembro."
Dona quinina fechou o diário de Tereza. Balançou a cabeça.
- E aí comadre? O que achou?
- Coitadinha quinina! Tenho certeza de que essa jovem jamais vai esquecer tudo o que esse animal lhe fez por mais que os anos lhe passem.
- Não, isso não é nada! Tereza conta aqui que o nojo por ele era tão grande, cada vez maior que ela passou a rejeitá-lo na cama. Então minha amiga, você pode imaginar?
- O quê?
Quis saber Lucia embora já tivesse uma mera idéia da resposta, pelo que sua comadre quinina lia.
- A coitadinha passou a sofrer mais um tipo de violência. A sexual. Ele a forçava!Tereza agora era violentada pelo próprio marido.
- Ele tem que ir pra cadeia! Meu deus! Que coisa horrível! Já estou toda arrepiada!Olha só! O meu Zé é diferente! Nunca sofri agressão nenhuma dele. Nem com palavras ele me feriu, pois ele sabe que em mulher, não se bate nem com uma rosa! Por isso a gente já vai fazer 32 anos de casamento! Mas esse aí?...Meu deus!
Agora, era Lucia quem tinha nas mãos o diário pra ler. Pegou a pagina 65.
"Mais um dia, mais sofrimento!
Fui fazer o café pra o Robertão ir bem alimentado pra o serviço. Acontece que o leite não tinha natas e ele não toma leite sem natas. Foi aí que aconteceu um incidente. Colocou a culpa em mim e transtornado, passou a quebrar todos os pratos. Como comeríamos agora eu e aquele infeliz? Só restaram três panelas porque elas eram esmaltadas.
A partir desse dia tomei uma decisão de não me sujeitar mais a esse tipo de coisa e a situação até deu uma evoluída. E pra melhor, graças a deus. Consegui que ele me deixasse arrumar um emprego. Mas nessa dele me buscar todos os dias, ficou sabendo que eu contei que era agredida em casa e tudo voltou a piorar de novo. Disse que não colocaria mais os pés pra fora de casa e para impedir que eu desobedecesse, o monstro rasgou todas as minhas roupas de sair. Meus uniformes de trabalho não existiam mais. Fui despedida.
Mas isso não duraria por muito tempo.
Decidiu a acabar de vez com aquele sofrimento.
Os anos se passaram e agora Tereza tinha uma vida nova. Cheia de alegrias, tranqüilidade e prazer. Estudara e se tornara uma renomada veterinária. Sentada numa mesinha, tomava café na lanchonete e relembrava o passado. Era inevitável.
- Gostaria de saber o que foi feito do meu diário sabe?
- Já que está tocando nesse assunto, Como ele foi desaparecer?
Perguntou o colega de trabalho e grande amigo.
- O Roberto me flagrou escrevendo nele. Furioso leu tudo, letra por letra e não sei nem como não rasgou. Consegui pegar de volta e esconder, mas num lugar tão obvio que eu só poderia querer que ele o encontrasse realmente.
- Onde?
- Debaixo do colchão. Quando descobri, ele estava com o caderno novamente em mãos e não consegui impedir que ele o jogasse pela janela. Desci correndo pra pegar, mas quando alcancei à calçada, o caminhão de lixo tinha levado. Será por onde anda?A chuva deve ter levado todas aquelas paginas de amargura e tristeza. Deve ter servido de combustível para acender a fogueira dos andarilhos, dos moradores de rua... Deve estar na mão de alguém. Sim, alguém deve ter lido o meu diário. Seria melhor que ninguém ficasse sabendo de toda essa monstruosidade, com certeza nunca ouviram falar da existência de pessoas como eu que se submetia aquele tipo de coisa.
- Não acha melhor parar de tocar nesse assunto?é coisa do passado!
- Mas eu quero falar! Eu preciso!
- Está bem!
- Todos que leram meu diário com certeza diziam que eu não tinha amor a mim mesma!Pensavam que eu não queria me livrar daquela situação, mas não é verdade! Não é verdade, eu queria mesmo. Juro.
- Eu acredito!Não precisa jurar.
O amigo apertou sua mão em um gesto solidário. Foi aí que ela atentou para uma marca que representava tudo o que viveu no passado. Uma cicatriz. Herança do casamento que ela tanto desejara. Só que se sonhasse que tudo se transformaria em um pesadelo, Tereza jamais teria aceitado o pedido que o noivo lhe fizera. Seus olhos se encheram de lagrimas.
- Me tirou todos os meus sonhos!Não sei se um dia será possível recuperá-los.
- Não diga isso, você vai ver que dentro em breve eles estarão todos realizados.
- Será?
- Claro. Ainda mais por que você é uma excelente profissional e está se saindo muito bem na clinica. Por falar nisso, está precisando de umas férias.
- Não! Nem pensar em férias... O que eu quero é trabalhar, trabalhar e trabalhar. Para esquecer.
- já que estamos falando sobre isso, me conta. pois estou curioso. Como conseguiu se livrar daquele monstro?
- Um dia, disse a ele que ia sair de casa, consegui reunir menos que o básico e saí correndo pela rua. Robertão corria atrás de mim com uma faca na mão. Corria como desesperada! Atravessava as ruas, sem olhar pra onde ia!Faria tudo pra que ele não me pegasse. Caí, machuquei meus joelhos que ardiam e sangravam, mas continuei correndo mancando. Foi aí que de repente, perdi forças, tonteei e fui parar na frente de uma moto. O piloto tirou seu capacete e começou a despejar um monte na minha cara. Até que viu atrás de mim um homem com uma faca. Virei, vi o Robertão e gritei:
- Moço, é meu marido. Por favor, me ajude, ele quer me matar!
O cara da moto ficou pálido, começou a tremer, sem reação. Ficou nervoso de me ver naquele estado.
- Ele ficou nessa, o palerma? Por pouco, por culpa dele, estaria morta.
- Ficou nessa, mas viu que tinha que fazer alguma coisa porque o robertão estava prestes a enfiar a faca nas minhas costas e isso aconteceria se ele não me puxasse logo pra cima da moto. O cara ainda se desequilibrou e fomos parar no chão, mas ainda bem que ele recuperou a postura logo e aceleramos pela rua de são Paulo á fora. Contei a minha história resumidamente, ele ficou espantado e solidário. Fiquei constrangida quando ele me perguntou pra onde eu queria ir tive que responder que não fazia a menor idéia. Ele então me deu a sugestão. O moto boy me falou:
“- Olha, se eu fosse você, ia pra delegacia de proteção á mulher .”
- Eu aceitei e ele me levou pra lá. A melhor coisa que aconteceu na minha vida. seu eu não tivesse ido á delegacia, não teria me tornado quem eu sou hoje... Cheguei lá, contei toda a minha história e a delegada me orientou sobre o que deveria ser feito. Disse a ela que eu não teria dinheiro pra contratar um serviço de um advogado pra entrar com uma ação na justiça, foi aí que fiquei sabendo que em casos como o meu, o estado pode nomear um advogado ou advogada pra me defender. Sofri muito com toda essa história. Amadureci... No começo pensei que não poderia superar. Passei a acreditar que todos os homens eram iguais.
- Não acredito!
- Lógico! E você não imagina o por quê? Posso até estar enganada. Mas mesmo que eu mude de opinião, vou ficar sozinha por toda a minha vida.
- Eu não acredito nisso. Tenho certeza absoluta de que vai aparecer um partidão , quando menos esperar , sabia?
- Talvez.
Desconversou. Não gostava de falar de amor. Foi ao banheiro lavar as mãos e assim que pagou a conta, ela se preparou para mais um dia de dedicação aos atuais amores de sua vida. Os animais.
Uma mulher tingia de sucesso as páginas de um caderno, relatando todos os passos de seu intenso trabalho , registrando cada momento do seu dia a dia. Ele era a sua alma, sua voz, ele era o seu diário. Essa mulher era Tereza, uma vitima de violência doméstica, que conseguira dar a volta por cima, representando a voz de todas as mulheres que eram escravas de seus maridos e ainda temiam denunciar.
Mulheres vitimas de violência domestica. Denunciem! Gritem! Não se calem. Não vamos permitir que os trágicos números de pesquisa aumentem. Precisamos banir definitivamente a violência contra a mulher do mundo. Não vamos permitir que esses covardes continuem sem punição.
Fim
DADOS E PESQUISAS
Mulher brasileira nos espaços público e privado (2001)
Realização: Fundação Perseu Abramo
Uma em cada cinco brasileiras declara espontaneamente já ter sofrido algum tipo de violência por parte de um homem.
A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil.
Comentários sobre violência contra a mulher extraídos da análise realizada pelo Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo. Acesse a íntegra com gráficos e tabelas em http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=253
Cerca de uma em cada cinco brasileiras (19%) declara espontaneamente ter sofrido algum tipo de violência por parte de algum homem: 16% relatam casos de violência física, 2% citam alguma violência psíquica e 1% lembra do assédio sexual.
Quando estimuladas pela citação de diferentes formas de agressão, o índice de violência sexista ultrapassa o dobro, alcançando a marca de 43%.
Um terço das mulheres (33%) admite já ter sido vítima, em algum momento de sua vida, de alguma forma de violência física (24% de ameaças com armas ao cerceamento do direito de ir e vir, de 22% de agressões propriamente ditas e 13% de estupro conjugal ou abuso).
27% sofreram violências psíquicas e 11% afirmam já ter sofrido assédio sexual. Um pouco mais da metade das mulheres brasileiras declara nunca ter sofrido qualquer tipo de violência por parte de algum homem (57%).
Tipos de agressão
Dentre as formas de violência mais comuns destacam-se a agressão física mais branda, sob a forma de tapas e empurrões, sofrida por 20% das mulheres; a violência psíquica de xingamentos, com ofensa à conduta moral da mulher, vivida por 18%, e a ameaça através de coisas quebradas, roupas rasgadas, objetos atirados e outras formas indiretas de agressão, vivida por 15%.
12% declaram ter sofrido a ameaça de espancamento a si próprias e aos filhos e também 12% já vivenciou a violência psíquica do desrespeito e desqualificação constantes ao seu trabalho, dentro ou fora de casa.
Espancamento com cortes, marcas ou fraturas já ocorreu a 11% das mulheres, mesma taxa de ocorrência de relações sexuais forçadas (em sua maioria, o estupro conjugal, inexistente na legislação penal brasileira), de assédios sexuais (10% dos quais envolvendo abuso de poder), e críticas sistemáticas à atuação como mãe (18%, considerando-se apenas as mulheres que têm ou tiveram filhos).
9% das mulheres já ficaram trancadas em casa, impedidas de sair ou trabalhar; 8% já foram ameaçadas por armas de fogo e 6% sofreram abuso, forçadas a práticas sexuais que não lhes agradavam.
A projeção da taxa de espancamento (11%) para o universo investigado (61,5 milhões) indica que pelo menos 6,8 milhões, dentre as brasileiras vivas, já foram espancadas ao menos uma vez. Considerando-se que entre as que admitiram ter sido espancadas, 31% declararam que a última vez em que isso ocorreu foi no período dos 12 meses anteriores, projeta-se cerca de, no mínimo, 2,1 milhões de mulheres espancadas por ano no país (ou em 2001, pois não se sabe se estariam aumentando ou diminuindo), 175 mil/mês, 5,8 mil/dia, 243/hora ou 4/minuto - uma a cada 15 segundos.
Freqüência e duração
Entre as mulheres que já sofreram espancamento, 1/3 (32%) afirma que isso só aconteceu uma vez, enquanto outras 20% diz ter ocorrido 2 ou 3 vezes. A declaração de espancamento por mais de 10 ou várias vezes é comum a 11% das mulheres que já passaram por isso, além de 15% que não determinam a quantidade, mas o tempo que ficaram expostas a esse tipo de violência. Há mulheres que sofrem ou sofreram espancamentos por mais de 10 anos, ou mesmo durante toda a vida (4%, ambas).
Quem são os agressores
A responsabilidade do marido ou parceiro como principal agressor varia entre 53% (ameaça à integridade física com armas) e 70% (quebradeira) das ocorrências de violência em qualquer das modalidades investigadas, excetuando-se o assédio. Outros agressores comumente citados são o ex-marido, o ex-companheiro e o ex-namorado, que somados ao marido ou parceiro constituem sólida maioria em todos os casos.
Pedido de ajuda
Em quase todos os casos de violência, mais da metade das mulheres não pede ajuda. Somente em casos considerados mais graves como ameaças com armas de fogo e espancamento com marcas, cortes ou fraturas, pouco mais da metade das vítimas (55% e 53%, respectivamente) recorrem a alguém para ajudá-las.
O pedido de ajuda perante ameaças de espancamento à própria mulher ou aos filhos; tapas e empurrões e xingamentos e agressões verbais ocorre em pouco menos da metade dos casos (46%, 44% e 43%, respectivamente).
Cerca de pouco mais de um terço das mulheres pediram ajuda quando vítimas de impedimento de sair, sendo trancadas em casa; quebra-quebra em casa; assédio sexual e críticas sistemáticas à atuação como mãe. Nas demais situações de violência o pedido de ajuda é inferior a 30%.
Em todos os casos de violência, o pedido de ajuda recai principalmente sobre outra mulher da família da vítima - mãe ou irmã, ou a alguma amiga próxima.
(PESQUISA E DADOS AUTORIZADOS A SEREM PBLICADOS)