Nostalgia

Ele nem se deu conta de quando abriu os olhos e percebeu que ontem havia se passado, e que o agora também se passava, rumo à incerteza que o depois de agora nos reserva. Tudo era velocidade, tão veloz que se ele parasse por um instante para tentar alcançar o momento do "agora", ele apenas iria enxergar escuridão total. Os momentos da vida são tão velozes, que o intervalo de tempo entre o antes e o depois é pura escuridão, nunca se sabe o que vem depois, quando se percebe já ocorreu o fato e sem pausas, nem descanso nenhum, caminhamos para o próximo fato incerto.

"Quantas coisas eu nem percebi, nem sequer enxerguei, quantas pessoas passaram pela minha vida e se foram, para talvez nunca mais as verem, quantos amores e paixões, quantas alegrias e lágrimas de tristeza, quantos momentos, quantos momentos..." pensava ele observando pela janela de seu quarto, olhando a noiite de verão, com suas luzes piscantes ao horizonte... " Segurei tantos sonhos nas minhas mãos, e por certos instantes, nas escuridões dos momentos efêmeros, acreditei que tais sonhos estariam se realizando, e muitas vezes, acreditei que já teria realizado todos eles..." Refletia olhando a cidade iluminada, olhou para a estante que guardava lembranças, e no meio desses,encontrou uma velha bússola que sua avó havia lhe dado quando ainda era criança e pensou: " Os nossos sonhos são como bússolas, sempre nos levam para onde desejamos chegar, quando era criança gostava de brincar de encontrar o tesouro perdido, e agora brinco de encontrar todos os sonhos que perdi, talvez estejam ao norte, ou ao sul, ou então talvez estejam perdidos em alguma dimensão dentro de mim mesmo..." Nesse período que ele refletia em tudo, as horas se passavam, como carros em uma corrida, um ponteiro lutava para estar mais a frente do que o outro, a vida é veloz, a vida é veloz ... A cidade agora estava num silêncio profundo, num silêncio que apenas a noite consegue proporcionar, e ele continuava lá na sua velha janela debruçado, sentindo a brisa leve daquela noite de verão, passando pelo seu rosto : " eu já estive aqui antes, nesta mesma janela e sentindo essa mesma brisa em meu rosto, mas lá eu estava com os olhos tapados, quando se tem sonhos na superfície e esperanças o bastante para ser alegre, tapamos os olhos para os momentos velozes, e apenas percebemos tais momentos breves quando já não se tem mais sonhos e nem esperanças. Antes apenas senti o momento passando por mim como este vento, mas não alcancei, não toquei, deixei tudo se escorrer por entre meus dedos..."

Uma lágrima fina rolou de seu olho, e então ele percebeu que esta lágrima pertencia ao depois que se tornava a cada milésimos de segundo o antes, e então havia sim esperanças, pois a vida continuava, os ponteiros do relógio continuavam a lutar para quem chegasse primeiro na frente, a vida na cidade recomeçava novamente, com seus barulhos, com carros e pessoas passando, havia esperanças de alcançar e tocar seu momento atual, sem deixar com que as coisas passassem despercebidas, por mais velozes que fossem. Havia esperanças, pois foi exatamente isso que ele fez na noite que se passou, ele alcançou a si mesmo por algumas horas, alcançou o horizonte da cidade iluminada, alcançou o mais profundo de suas lembranças, e aquele pingo de lágrima que escorria e que pingava no chão da rua, simbolizava apenas o ponto, o fim das coisas que já haviam se passado sem volta : " O meu depois já é o agora, o meu amanhã já é hoje e está única lágrima que se foi, foram apenas saudades."

Danilo Rodrigues
Enviado por Danilo Rodrigues em 05/12/2011
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