os íntimos sussurros do abismo sem fim.
Ah! a liberdade absurda da morte....na ponta do precipício, o vento prometendo um voo solo, definitivo, impassível.
de longe gritavam as vozes, que se achavam amadas:
- Não faz isso! Lembra que eu te amo?
Não respondeu, mas pensou:
- Será? será amor todos esses anos em que me decotei a transforma-lo em gente sem lograr, no entanto, êxito notório? Mal e mal consegui fazê-lo vagamente adulto!
- Não faz isso! Você me ama!
Não respondeu, mas pensou:
- Será? será amor isso que você pisa, despreza ou transmuta em sexo? Será amor esse bocado de palavras vazias que não chegam para convencer a mudar, amadurecer, compreender? Será amor isso que dou por absoluta falta de ter onde armazenar? Será amor isso que invento para justificar minha presença no mundo? Será?
- Não faz isso! Lembra da fé, da religião, lembra de Deus! Jesus te ama!
Não respondeu, mas pensou:
- Será? será que a fé e a religião não significam nada para as pessoas que desprezam, maltratam, banalizam, vandalizam, violentam o que sentimos e o que desejamos, o que lhes dedicamos?
É em nome de Deus que nos oprimem? Por que Jesus tem obrigação de me amar? Porque Deus não desejaria que eu me libertasse?
A voz do abismo sussurrava, irônica..."você não tem coragem"..."você não tem coragem"...e as outras vozes, repetiam interminavelmente a mesma cantilena, por não ouvir e nem conhecer os íntimos sussurros do abismo sem fim.