ORAÇÃO DECISÓRIA
 
 
      Naquele dia saíra de casa atrasado. Na testa, uma ruga de preocupação. Discutira com seu filho... O motivo, um baseado encontrado em meio às suas (dele) roupas usadas e espalhadas pelo quarto. Um carro freou... Tomou um susto.  Quase fora atropelado. O que fazer?... Como falar com seu filho de forma que ele o entendesse? Pede desculpas ao motorista por quase ter provocado um acidente. Segue o seu caminho cabisbaixo, porém, agora, tendo mais cuidado. Não quer que seus problemas afetem outras pessoas que nada têm a ver com eles.

     Questiona-se... Será que a culpa fora sua?  Será que deixara de dar-lhe a atenção devida?! Não. Responde a si mesmo. Dera-lhe as melhores escolas dentro das suas possibilidades, passeios, boas roupas... Mas será que esquecera o essencial? Será que deixara de fazer algo que deveria ter feito? Bi... biiiit! Buzina outro carro atrás de si. Pula de lado. Esquecera-se que estava no meio da rua outra vez. Sobe à calçada. Agora sim, está mais seguro para divagar nos seus tristes pensamentos.  Será que merece o que está passando? Matuta consigo mesmo, uma lágrima a escorregar pelo rosto. Será que perdera seu filho para as drogas? A lágrima desce até o canto da boca, salgando-lhe os lábios ressequidos. Suga-a com a língua sentindo um amargor que lhe penetra o ser. Seu anjo, seu bebê querido, crescera e estava fugindo ao seu controle. Será que já o perdera para as drogas?! Inquire-se novamente. Esse pensamento o faz estremecer como se um frio incontrolável o atacasse de súbito. O que fazer? Como agir? Como se comportar diante de uma situação dessas para que não piorasse?

     Prossegue seu caminho sem conseguir se fixar em qualquer coisa que não seja o pensamento de que seu filho está-lhe escapando... Mais uma lágrima molha-lhe a face. Topa numa pedra solta do piso da calçada por onde caminha...  Equilibra-se e olha para frente, dando de cara com uma igreja que está sempre de portas abertas para os fiéis, entra, ajoelha-se e chora, chora..., sem conseguir pronunciar sequer uma palavra em prece. Levanta-se, enxuga as lágrimas com o dorso da mão, e sai. Está aliviado. É como se algo, um bálsamo, tivesse lhe penetrado o ser e sacado de lá aquela dor que parecia incurável.

     Hoje não vai mais trabalhar! Não importa a falta nem as reclamações do seu chefe! Vai para casa. Precisa conversar com seu filho, precisa tentar ajudá-lo e o fará.
 
 
 
 
 
Natal/RN – Outubro de 2011


Conto que concorreu ao TALENTOS DA MATURIDADE em 2011