O CÂNCER

“O CÂNCER “

A idosa estava sem graça. Na ante-sala de exames, ao vestir o roupão deparou com um carrapato enorme. Chamou a doutora e mostrou-lhe o parasita. A médica disse-lhe: - Onde a senhora o encontrou? A idosa respondeu-lhe: - Passeando neste roupão que a senhora me mandou vestir. A médica ficou tão irritada e disse-lhe asperamente: - Muito estranho, encontrar isto aqui.

Após o pequeno incidente, a ginecologista olhou todos os exames e afirmou, circulando o diagnóstico no laudo do ultrassom: - A senhora tem câncer. Tem plano de saúde? A septuagenária arrasada respondeu negativamente com a cabeça. A médica friamente ainda lhe disse: Economize, faça um plano de saúde, e depois a cirurgia.

A idosa chegou à casa arrasada. A pressão arterial ficou alterada, a boca seca, os batimentos cardíacos descontrolados. Não sabia o que fazer. A filha sempre a acompanhava nas idas ao médico, justamente naquela tarde, tinha um compromisso e não pode adiar. Milhares de pensamentos corriam pelas veias cerebrais da senhora numa atividade intensa. Em sua imaginação a pobre senhora sofria antecipadamente, com o que estava por vir.

Após os primeiros dias de desespero, resolveu procurar ajuda. Falou com seu cardiologista, que era um senhor muito objetivo e explicou-lhe: - Certamente, o diagnóstico CÂNCER, não poderia ter sido mencionado como definitivo sem exames mais específicos. A colega ginecologista precipitou-se. Enquanto olhava os exames com muita atenção. Percebeu que em um dos exames antigos, o laudo tinha sido expedido por um colega seu. Abriu o jogo e disse: - Procure meu colega, e faça uma consulta com ele. É um profissional sério, e com certeza irá lhe indicar a melhor maneira de resolver seu problema, com clareza, sem encher a sua cabeça com tantas informações negativas.

A idosa foi para casa confortada. Conseguiu agendar uma consulta com o médico. No dia da consulta esperou por quatro horas para ser atendida. Explicou para a secretária que apenas precisava de um parecer do profissional, e não precisou nem pagar a consulta. O médico a atendeu com muita atenção e calma, explicou-lhe a necessidade de fazer uma “videohisteroscopia cirúrgica com retirada de pólipos e biópsia”. Procedimento invasivo e com riscos, por causa da idade, da hipertensão, e outros pequenos detalhes, pois o útero é um órgão muito vascularizado e poderia dar hemorragia. Era uma pequena cirurgia, com os riscos de qualquer cirurgia, mas dizer que ela tinha um CANCÊR, aí já é era outra coisa. Na saída do consultório a idosa pegou o orçamento com a secretária. A conta era astronômica, além de qualquer uma de suas possibilidades financeiras.

Chegando a casa, ela rezou, rezou e continuou rezando por muitos dias. Certa tarde, ela saiu com sua filha para ir ao supermercado e deixou sua netinha em casa. Quando voltou a menina disse-lhe que sua amiga Deia tinha telefonado. No dia seguinte, a senhora ligou para a Deia que disse não ter dado nenhum telefonema, com certeza a menina tinha se enganado. Continuaram conversando e a idosa desabafou, contando com pormenores o que a estava afligindo. Deia meigamente comentou: - O engano de sua netinha pode ter sido uma resposta a suas preces. Meu segundo marido o Daniel, ainda trabalha no SUS. Como médico, ele conhece outros colegas que podem lhe ajudar a conseguir a cirurgia em um hospital publico.

O engano de um anjo foi a resposta as preces da senhora, pois o Dr. Daniel orientou a idosa a procurar um hospital específico para fazer a cirurgia. Lá a Dra. Maria das Graças, colega do Dr. Daniel, encaminhou a senhora para os exames restantes e posterior cirurgia. A idosa já tinha um cadastro neste hospital, consegui marcar a consulta, levou os exames, e foi logo encaminhada para a cirurgia.

Seis meses após o diagnóstico precoce de CÂNCER dado friamente pela médica que tinha um enorme carrapato em seu consultório, ela finalmente teve um alívio, pois recebeu alta com a certeza de que estava boa sem sequer ter sido portadora de malignidade. As biópsias foram todas negativas. Ela continua fazendo acompanhamento no hospital publico e às vezes imagina que muitas pessoas são cancerosas em sua mente, em sua consciência, pois trazem os traços de doenças malignas marcadas em suas almas.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 01/12/2011
Código do texto: T3367170
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