O cavaquinho

“Mãe, me compra um cavaquinho”!

- “Cavaquinho? Pra quê, menino??!”

- “Pra eu tocar, mãe!!!”

- “Oh, garoto, me diga, vai..., você é tão miudinho, nem sabe o que é um cavaquinho..... donde tirou essa idéia...?!?!?!”

- “Mãe!!!! claro que sei, mãe!!!”

E, com jeito e jeitoso, com suas mãos magras e branquelas, as unhas amarelas, diminuiu, no ar, as curvas dum violão. – “Assim, ó mãe, o cavaquinho é um violão miudinho, que nem eu....”

- “Que nada, menino, compro nada!” rosnou ela com voz de mãe irritada.

Mas, depois, alisou - “olhe menino, quer saber?! pra você não mais ficar insistindo, só compro se você mostrar que sabe tocar.....”

E a mãe continuou tocando a vida, que era corrida, manicure num salão de fazer a beleza de tantas mãos.....

Menino insistente aquele era e a mãe ficou atormentada, quando estava em casa, com tanto barulho que saia do cavaquinho do amigo do vizinho. Só nas segundas o menino tinha o cavaquinho emprestado. E ficava na sala, no banheiro, na porta, no quarto, a tocar a tocar a tocar. Na hora da novela a mãe mandava o menino se trancar. – “Ai, menino, não agüento esse barulho... já pro quarto....”

Mas, um dia, ela ouviu e ouviu e não resistiu....epa! que som é esse?!?!.... e deixou o som entrar e ficar e dançar no seu ouvido, nos olhos do seu coração. Era aquela música, corridinha, o “brasileirinho”, bem tocadinho pelo menino no cavaquinho. A mãe se levantou, e devagarinho, como se entrasse numa igreja grande e solene, entrou no quarto e olhou com olhos molhados seu menino magro que tocava as cordas com os dedos amarelos e um brilho nas mãos. Êta, menino bom!! Chamou os vizinhos e o dono do cavaquinho. Todos disseram, esse menino tem dom! – “E, então, mãe?!” perguntou o menino, alisando o pinho, “me compra um cavaquinho?!!”