Interrogação

Começaram os jogos. Todos foram embora. Houve abraços, beijos apertos de mão, dedicatórias e até mesmo choro. Todos foram embora. Mas eu fiquei. A sala vazia é diferente, longe da que eu conheço. Eu fiz a redação sobre a Copa. Na sala vazia, o sol entrava pela tela quadriculada das janelas, deixando uma sombra xadrez em todas as carteiras. Ao fundo eu posso ouvir toda a algazarra que vem da quadra, da torcida. Disseram “Você não vem?” e respondi que não, não dessa vez. Eu terminei a redação. Vou até a quadra entregar. Vou embora. O mesmo silêncio da sala está ali, o silêncio que é de certa forma contagiante. Eu desço a rua de pedra. Não há ninguém ali, atravesso a avenida. Está vazio. Há carros de vidros escuros. As lojas estão fechadas. Um som ritmado cresce em meus ouvidos, uma britadeira. Uma obra acontece ali, cones cor de laranja, um buraco, uma britadeira, alguns homens e um caminhão betoneira. 11:00h, às vezes eu esqueço como se anda, dou passos largos, eu posso escutar o martelar de meus passos, o sol em meu rosto. O sol das 11h, forte, monótono, abafado. Uma enorme interrogação me perturba, eu a levo comigo, carrego nas costas. Pesa, cansa. Está abafado, eu uso um moletom preto que me faz suar e querer chegar em casa. Sou apenas eu, em toda a rua, continuo andando, levando a interrogação. Acredito-me que, se ela fosse concreta, seria feita de mármore. O silêncio ensurdecedor tem como melodia ao fundo uma britadeira. Eu pego minhas chaves e abro a porta. Pronto. Não há mais silêncio. Acabou.

WsCaldas
Enviado por WsCaldas em 28/11/2011
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