DECEPÇÃO ADOLESCENTE
- Alô.
- Tia Maria, por onde a senhora andou? Desde cedo que eu ligo lhe procurando.
- Oh! Vanessinha, eu tinha ido entregar umas costuras que estavam prontas.
- A senhora precisa ter um telefone celular que é para quando suas sobrinhas quiserem falar com a senhora poder lhe encontrar.
- Minhas sobrinhas queridas sabem perfeitamente o endereço da tia e não vêem vê-la porque são ingratas...
- Sabe tia, eu queria pedir um favor à senhora.
- Diga minha querida, se eu puder fazer...
- É o meu vestido da festa.
- É prá quando isso?
- Domingo.
- Mas minha filha hoje é sexta feira, e já está de noite. Só temos amanhã para fazer. Porque isso assim de última hora?
- Sabe tia, é que mamãe só trouxe o pano hoje.
- E sua irmã, Letícia, já tem o dela?
- Não senhora. É para a senhora fazer os dois.
- Vamos fazer assim, vocês vêem para cá e me ajudam. Vamos ver se vai dar tempo.
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- A senhora é a tia mais maravilhosa do mundo. Se não fosse a senhora nós nem poderíamos ir para a festa. Vai ter até quadrilha improvisada. -
- Vamos tia? A senhora vai gostar muito.
- Eu não gosto mais de festa junina.
- Por que não gosta mais?
- Por causa de uma coisa que aconteceu faz mais de trinta anos.
- Conta tia.
- Vai tia, conta.
- Não. Temos muito trabalho para fazer e conversa é roubo de tempo.
- Olhe a senhora vai costurando na máquina e contando e nós costurando à mão e ouvindo.
- Eu sei fazer bainha com ponto escama de peixe que mamãe ensinou.
- Por que a senhora não tem máquina de over look, tia?
- Porque over look é acabamento de fábrica ou de gente preguiçosa. Eu sou modista. Cada vestido que eu faço é como se fosse uma escultura. As únicas máquinas que batem neles são a máquina de costurar e o ferro de passar. O resto é na mão.
- Mas esses nossos vestidos podiam ser feitos todos na máquina.
- Oh! Vocês pensam assim. Tai a máquina, podem fazer.
- Não, não tia. Foi brincadeira com a senhora. Diga onde é para costurar e a gente faz.
- Tem graça isso, um vestido para festa todo mal acabado. Ajeite esse ponto. Está mal feito.
- Mas os nossos já estão lindos demais.
- Vai tia, conta a história da senhora não gostar de festa de São João.
- Menina, vá trabalhar e me deixe sossegada.
- Vai tia, conta.
- É tia, conta logo.
- Foi assim. Quando eu tinha a idade de vocês, 11 anos.
- Nós temos 12 anos, vamos fazer 13 em agosto.
- É mesmo, o aniversário de vocês é no dia da Assunção de Nossa Senhora, dia 15.
- Ainda bem que mamãe não se lembrou de botar o nome de Maria da Assunção em uma de nós, se não iam nos apelidar de Sunça. Que apelido feio, parece sonsa.
- E não é o que vocês duas são. Duas sonsas que vivem aprontando e na hora da chibata, não foi ninguém.
- Vai tia, conta a história.
- Foi lá na minha escola. No início do ano chegou um colega novo, era Marcelo o nome dele, e eu fiquei apaixonada por ele logo no primeiro dia. Ele era lindo, com o cabelo castanho, parece que estou vendo...
- E a senhora falou com ele?
- Nessa época menina não podia pedir o menino em namoro. Tinha que ficar esperando que ele tivesse a iniciativa. E eu fiquei esperando que Marcelo me notasse. Dias depois ele já tinha feito amizade com todos da sala, mas nada de me falar namoro. E eu continuava lá calada, a cada dia o amando mais, quase morrendo de amor por ele.
Aí chegou o meio do ano e a professora resolveu que deveríamos dançar quadrilha.
No sorteio dos pares, ficamos juntos Marcelo e eu.
Aí eu pensei, talvez agora ele me olhando mais de perto, sentindo o meu cheiro, descobrisse o meu amor por ele, mas quando foi na hora da saída, ele veio falar comigo para trocarmos de par, porque ele queria dançar com Belinha, minha amiga de classe, porque ele estava apaixonado por ela.
Eu falei com Belinha e depois disse a professora que meu pai não me ia deixar ensaiar porque no dia da festa a gente ia viajar.
- Mas tia a senhora é muito mole. Entregar Marcelo assim, de mão beijada, para a outra.
- Mas o que era que eu podia fazer minha filha? Era ele que não queria nada comigo.
- Eu agarrava e danava-lhe um beijo.
- Letícia, minha filha, que coisa feia. Mulher não age assim.
- Diz a ela Van, como é agora.
- É sim tia, Let está certa, as meninas vão à luta.
- Mas como vocês estão. Vocês não, o mundo está virado pelo avesso.
- Sim tia, continue a história.
- Acabou assim, Marcelo dançou e depois ficou namorando a Belinha. E eu nunca mais dancei quadrilha nem gosto mais da festa de S. João.
- Eita! Tia ainda é apaixonada por Marcelo, né não tia?
- E tio Antonio sabe dessa história?
- Meninas, se vocês não se comportarem, eu não faço mais nada...