HÓSPEDES (INQUILINOS) ACOMODADOS!

Parodiando o egrégio escritor russo - Leon Tolstói - no seu consagrado romance ANA KARENINA, tomo a liberdade de começar esta narrativa assim: Todos os imigrantes se parecem entre si, já as pessoas que os acolhem agem cada um à sua maneira.

O que os imigrantes têm em comum? Sem dúvida, primeiramente, aquele receio e medo da cidade grande, adicionados a uma ansiedade e incerteza comparadas a um tiro no escuro. Sem um alvo certo e um objetivo alinhavado e programado, as pessoas de outros Estados, quando chegam em outro, mesmo sendo recebidas, acolhidas por parentes e familiares e também procurando se esforçar, sempre deixam transparecer nos primeiros momentos uma apreensão peculiar a todas elas. E é bom que se respeite isso, por mais que se repita que podem ficar à vontade, jamais se sentirão assim. Só que esta afirmação é proferida por pura educação. Todo mundo sabe disso. Portanto, dificilmente, por mais que alguém recém-chegado a um lugar desconhecido,mesmo tendo uma personalidade extrovertida, até se acostumar com as pessoas à sua volta, sempre procurarão agir com cautela e muitas vezes não tomam muita iniciativa para quase nada. Fica mais observando, desconfiado, pelo menos, nos primeiros dias. Mas esta atitude assim arredia é comum, é típica das pessoas provenientes de lugares mais pobres e humildes.

Escrevi este preâmbulo de uma só tacada, de um só fôlego com o objetivo de deixar o (a) leitor (a) ciente que o que passo a narrar tem tudo a ver com este assunto. Afinal, eu e minha família sentimos na pele o que é hospedar um casal assim, vindo do nordeste brasileiro e que, em pouco tempo, percebemos que a nossa humilde hospitalidade foi confundida e interpretada erroneamente por locação. Explico:

O modesto quarto, que era do nosso filho, foi cedido ao referido casal, obviamente, para dormir. Só que os dois fizeram do cubículo uma pequena propriedade "particular", ignorando totalmente o dom da consciência, que era para deixá-lo liberado, aberto durante o dia, uma vez que neste tinha um computador com acesso a internet, por sinal, material de uso da nossa pequena família e que, de uma hora para outra, à nossa revelia, foi "boicotado". Pode uma aberraão desta?

Acredite se quiser, o referido casal imediatamente demonstrou uma acomodação fora dos limites. Só para se ter uma ideia, a idade de ambos: 23 anos, aproximadamente. Não são casados, mas já vivem juntos há algum tempo. Olhando para os dois, a primeira impressão que se tem é que estavam em plena lua de mel, com a cara limpa e deslavada de quem só pensa naquilo.... Só que pelo visto, naquele relacionamento, o mel ficou lá no nordeste e a lua, literalmente, estava sempre no quarto (minguante ou crescente) é uma questão de interpretação.

Então como agia o nefasto casal? Acordava lá pelas dez horas da manhã. Dificilmente cumprimentava quem estivesse na sala ou na cozinha do nosso apartamento. Logo após o café da manhã, retorno imediato ao quartinho e trancava a porta! Que disparate! Que ousadia! Antes do almoço, um banho caprichado de 20 minutos. Barriga cheia, volta ao quartinho. Parecia até que ambos sofriam da síndrome do pânico ou estavam fugindo da polícia, sei lá. Alguma coisa ficava no ar que algo estava errado. Continuando a rotina dos dois. No período da tarde, outro banho daqueles. Cada um, uma média de 15 a 20 minutos. Que beleza! A Eletropaulo se regozijava com tal disparate, pensava eu. Mais tarde, a janta ou lanche. Antes de dormir, outro banho. E assim acontecia dia após dia.

Este tipo de coisa, pouco a pouco, foi nos chamando a atenção e, paulatinamente, a minha esposa, tia do rapaz, achou que tinha entrado num fria. Eu havia percebido isto desde o primeiro dia. Pois se eles tivessem vindo com a intenção de trabalhar, naturalmente, já tinham tomado alguma atitude.

Até que, após um mês neste marasmo, até que enfim, a mãe do rapaz ligou para a minha esposa dizendo que estava vindo a São Paulo para resolver a situação do filho e da nora. Ainda bem que ela teve sorte. Pois logo que chegou, por acaso, a minha esposa encontrou dois cômodos para alugar e logo assinaram o contrato de locação e a mudança foi imediata, para a nossa tranquilidade. Sairam que nem obrigado deram. E quer saber de uma coisa? Pra ser sincero, eu e minha família é que ficamos gratos e aliviados. E a nossa rotina voltou ao normal. Só que após este vexame, ficou uma lição:

Ajudar aos semelhantes é muito bom e bonito, mas dependendo de alguns parentes ou conterrâneos acomodados, folgados, pode ser muito constrangedor, gerando até aborrecimento, por que não? Neste caso, foi o nosso dilema: demos a mão e eles quiseram os pés. Foi muita folga. Que eles sejam felizes, lá onde estão morando.

JOBOSCAN

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 26/11/2011
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