“Cavalo de Pau”
Meu cavalinho de pau, companheiro de aventuras, quantos índios matamos juntos, quantas viagens para diversos países (logicamente não Disneylândia), pois além de mal sabermos falar o português, não nos interessávamos por tais sofisticações.
Lembro-me da primeira fuga após uma bela surra ao quebrarmos o varal de roupas de minha mãe que não viu a necessidade que tínhamos de usar a corda do varal para fazer um laço. Esta fuga durou mais ou menos até à hora do almoço, pois a fome me obrigou a adiar a viagem que ficou suspensa até a tarde, mas foi esquecida pois assuntos mais importantes como um ninho de pombos na cumeeira da casa que me roubou toda a atenção, embora não tenhamos logrado êxito, pois meu avô e parceiro não colaborou colocando a escada contra a parede da casa para que escalássemos a cumeeira até o ninho. Só não acabei com a amizade, pois confesso fui comprado. Quando ele viu que romperíamos relações pela sua traição, me deu seu canivete de presente. Só que na condicional eu teria que lhe emprestar toda vez que ele fosse picar fumo para fazer seu cigarro de palha.
Todos nossos problemas eram resolvidos a três: Eu, meu avô e meu cavalinho.
Certo dia não sei por que, pois não havia motivo, meu avô não quis brincar comigo. Fiquei só eu e meu cavalinho. Não entendi o porquê dele ficar parado naquela mesa, com todos em sua volta. Colocaram roupas novas nele, depois eu dormi e quando acordei haviam levado ele embora. Achei seu canivete que eu havia devolvido, pois toda hora tinha que emprestar para ele fazer seu cigarrinho de palha. Ficou também sua palha que ele havia escolhido no paiol, um pedaço de fumo, seu isqueiro (que chamamos de binga), uma foto numa medalhinha que ele carregava no bolso da camisa. Às vezes o via conversando com a foto, como se a vovó estivesse ali, coisas de velho.
Pois é vovô você foi embora, eu cresci, já não tenho mais meu cavalinho de pau. Casei, tenho filhos, mas vovô que falta você me faz.
Hoje viajo de avião para lá e para cá, mas nada supre a falta que eu sinto de vocês. Quando nós três no milharal dos fundos de minha casa, fazíamos aquelas guerras maravilhosas. Aquelas viagens que não consigo esquecer.
Hoje vovô, eu tenho um netinho, durmo com ele no colo, sou seu cúmplice, minto por ele, enfim, faço tudo que você fazia por mim. Só não queria partir, como você partiu. Pois ele vai ficar triste como eu fiquei vovô.
Esta pequena história
São retalhos de uma vida real
Vivida por um amigo meu.
Ofereço a todos os vovôs,
Que como eu são induzidos a
Cometer todos os delitos cometidos
Por avôs e netos, e deveriam ser
Perdoados pelos pais que não compreendem,
Que tudo fica no condicional ou você faz, ou faz
Caso contrario perde o amigo e isto.
NUNCA.