Férias

Ele chegou a João Pessoa procedente da cidade de Recife em torno das dezesseis horas, vindo pela BR-101 em um carro alugado.

O jovem universitário depois do sufoco do último semestre na PUC-SP onde cursava Engenharia Mecatrônica resolvera espairecer.

Depois de uma rápida consulta na internet descobrira uns pacotes de viagens com promoções irrecusáveis para o Nordeste. Porém, quando puxou o extrato da conta-corrente, a disponibilidade de verbas tornara inviáveis as primeiras opções, Ceará e Bahia. Sem perder a calma acessou a rede novamente e buscou a Biblioteca Universal, o “santo graal” Google e no link de busca digitou: “pacote de viagem-barato-nordeste”. Assim mesmo, entre aspas, somente para limitar a busca. Displicentemente correu os olhos pela tela do notebook e lá pelo meio da tela um link despertou a sua atenção:

“Nordeste bacana & barato-Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba...”

E logo abaixo, o endereço de origem:

“viajeaqui.abril.com.br > Viagem e Turismo – Em cache”

Entrou no link, e depois de várias pesquisas e simulações optou pelas praias mais baratas e bonitas do Nordeste.

Optou pelas praias da Paraíba.

Comparou a simulação de preços da hospedagem, alimentação e deslocamento com os parcos recursos disponíveis no extrato bancário que insistia em gritar bem alto ao lado do computador: CUIDADO COM OS GASTOS... NÃO ESQUEÇA AS DESPESAS DA FACULDADE... FICA ESPERTO, HEM!!!

Sorriu com excelente bom humor diante da sua proverbial imaginação fértil e constatou que as despesas da merecida semana de férias, em comparação com os outros roteiros ficariam pela metade do preço e ainda se daria ao luxo de alugar um carro, básico, claro. Mas que lhe daria mobilidade para ir aonde bem entendesse e a hora que quisesse. Somente um detalhe o incomodava, o pacote mais em conta o obrigava a desembarcar em Recife. O consolo é que a distância entre as cidades de Recife e João Pessoa era de apenas cento e vinte três quilômetros. E o melhor, acompanhado do consolo de conhecer a Praia de Boa Viagem, cantada e exaltada por Alceu Valença, nada mau para quem estava com os recursos limitados.

E ali estava ele, sentado no parapeito do quebra mar no Largo da Gameleira na Praia de Tambaú observando os turistas que transitavam pela orla naquele final de tarde ameno, sentindo a brisa marinha acariciar-lhe a face corada de satisfação. Ao lado dele um grupo de “gatas”, provavelmente paraibanas, trocava confidências entre olhares maliciosos e gargalhadas intermináveis.

Ficou super animado quando percebeu que uma delas, uma morena muito bonita disfarçadamente olhava para ele, e, sem o mínimo constrangimento, cochichava para uma amiga alguma confidência picante porque as outras amigas o olharam de rabo de olho rindo desbragadamente.

Para disfarçar que estava de olho nas garotas ele fixou a atenção nos totens vermelhos que ornavam o centro do Largo da Gameleira. Esse fato, esse olhar disfarçado, na verdade, prendeu a atenção dele por uns breves instantes. Aqueles seis totens carmins postados de frente para o nascer do sol na Praia de Tambaú, evocavam os Moais da Ilha de Pascoa, eternos sentinelas do sol nascente, impassíveis observadores dos retornos dos barcos dos pescadores.

Ele pensou: “quem sabe aqueles “moais” não lhe dariam sorte para pescar pelo menos uma daquelas sereias que gracejavam a seu respeito?”

Displicente, caminhou devagar em direção às garotas. Cumprimentou-as, trocaram ideias, falaram amenidades diversas.

Em pouco tempo de papo ele percebeu uma forte conexão com a morena simpática que o olhara de longe, e logo, sem que percebessem estavam entretidos conversando animadamente como se se conhecessem há anos sem ao menos perceberem a presença das amigas dela.

Desinibidos, trocaram um beijo para a alegria da turma, depois saíram de mãos dadas em direção ao carro delas. Mais um beijo tipo... Já estou com saudades. E marcaram encontro na Pizzaria Lion, ali na orla de Tambaú mesmo, lá pelas sete e meia ou oito horas.

- o –

Ela e as amigas chegaram à pizzaria em torno das sete e quinze. Sentaram e pediram chopes e caipirinhas, de vodka, faz o favor.

As meninas formavam um grupo alegre. Os clientes da pizzaria davam risadas disfarçadas dos gracejos e gozações que todas faziam de uma delas.

Os clientes sentados mais próximos, de vez em quando ouviam comentários esparsos por entre as risadas descontraídas.

“E aí Claudinha? Se muda quando para São Paulo?”

“Noooossa, amigaaaa! Para quem sempre achou que todo paulista é metido a “besta”, você bem que está gostando de “bestas”, hem?”

“Gostando, não! Essa aí, está é toda emaranhada na rede do paulista!”

E Claudinha, sempre risonha e nas nuvens com o novo possível namorado:

“Amigaaas! Fala séééério! Ele não é uma coisinha muito da fofa?”

Entre risadas e gozações de parte a parte chegou um amigo de todas. Puxou uma cadeira, pediu uma latinha ao garçom que passava ali por perto e sentou-se.

“E aí galera! Todo mundo na boa?”

“Maravilha, Paulinho! E as novidades, o que é que você conta?”

“Galera! Vocês nem imaginam o que acabou de acontecer naquele estacionamento, aqui pertinho, ao lado do Capim Fashion.”

“Fala logo, Paulinho! O que é que aconteceu?”

“Ora, bolas! O que é que vive acontecendo nesta cidade. Só nesta cidade, não... Em todo canto, no Brasil inteiro? O que é que acontece com todo mundo, direto?”

“Assalto? É... Só pode ser assalto! Fala logo, Paulinho, foi assalto?”

“Não! Desta vez não foi assalto! Foi atropelamento!”

“Como atropelamento? No estacionamento?” Oxente, Paulinho, como é que pode? Atropelamento? No estacionamento?”

“Então! Um cara, morto de bêbado, saiu de um dos bares aí da orla... Falaram que ele estava bebendo há horas... Foi dar partida num carrão... Parece que é um PORSCHE... Desses de câmbio automático e tudo mais... Em vez do cara engatar a ré, engatou a primeira... O carrão do cara disparou em direção ao muro dos fundos do estacionamento... Aquele que vai dar na praia... E aí parece que um cara tinha estacionado o carro dele e quando estava passando foi atingido... Hora errada, lugar errado... O cara morreu na hora... Tá o maior bafafá lá no estacionamento”

“E... Paulinho? Já sabem quem é o coitado?”

“Já! Eu ouvi do cara que controla a entrada e saída do estacionamento que o morto é um paulista... Disseram que é um garotão e que chegou hoje em Jampa... E para vocês verem como é a vida... Falaram que o cara ainda hoje a tarde estava na maior “pega” com uma morena bonita lá no Largo da Gameleira... Que ele estava rodeado de mulheres lá no Largo... Claudinha! Claudinha! Você está passando bem? Segura a menina, gente! Acho que ela vai desmaiar... Desmaiou! ALGUÉM CHAMA UM MÉDICO!!!”