Schlechtes Mädchen
Não tinha maldade em si, apenas não conseguia entender. Os diálogos estavam ficando cada vez mais monótonos. Aquela seqüência lógica de respostas industrializadas a irritava.
- Por quê?
- Não te interessa!
- Mas eu sou...
- Não é mais.
O tempo passava, e a cada dia sentia em si um rancor profundo, talvez pelos intermináveis anos de dedicação, quase sem resposta.
Pegou sua bolsa. Não botava os pés para fora de casa sem ela. Saiu. Não sabia para onde ir, sem rumo, sem sonhos.
Chovia. O ponto onde costumeiramente tomava o ônibus estava vazio, porém, cercado de água por todos os lados. Era o mais sutil retrato de sua vida. Vazia e isolada de todos. Não admitia que sua solidão era intencional. Ninguém a compreendia.
Deu sinal. Algumas poucas pessoas, vidros embaçados. Tentou imaginar se algum dos que ali estavam sofria como ela. Não sabia. Da janela, viu alguns poucos pedestres se aventurando em meio àquele caos. Pensou em descer. Em voltar. Deixar tudo tão fácil não era de sua índole. Correu até a porta. Sem pedir licença, quase tropeçou ao descer a escada. Não via nada. Não sentia nada. Não pensava nada. Apenas tinha de voltar. Ao tentar atravessar a rua, suas frágeis pernas a abandonaram.
Estava só. Desentendimentos fortuitos, dias vazios, tudo ficou para trás. Em seu último suspiro, resquícios de uma felicidade nunca vivida. Doces lembranças dos planos jamais concretizados.