DIÁLOGO COM DEUS

Num primeiro "diálogo" com Deus, nós havíamos "conversa¬do" o seguinte:

No cárcere em que me encontro, achava-me chateado, vez que cinco éramos para a "liberdade" pedir. Quatro isto al¬cançaram, eu, não consegui. O juiz a outro substabeleceu (assim manda a lei). Então me dispus com Deus a dialogar:

- Deus meu, porque comigo assim fizeste? Cinco éramos, só aqui ficou eu!

Então Deus, após alguns meses, assim me respondeu:

- Filho meu, queria que cursasse a faculdade que tanto sonhou. Se tivesse saído com eles, o curso universitário que agora frequentas, não teria acontecido.

Ao Senhor, respondi:

- Perdoe a minha impaciência. Razão o Senhor tem.

Alguns meses mais tarde, retomei o diálogo com Deus:

- Mas Deus, o tempo já tenho, agora universitário sou, mas para quê isto serve, se na prisão ainda estou? Ao que o Senhor me respondeu, com ternura:

- Filho, o melhor para você eu quero. No seu mundo se diz:

"Só é verdadeiro o homem que tem filhos e quando um livro escreve': Duas lindíssimas filhas tu tens, com a Turma Acadêmica Renascer Divino, um livro irás escrever.

De fato, alguns meses depois, dentro do presídio, com os meus colegas de faculdade, um livro escrevi, em que este

diálogo com Deus lá está. Reconheci, de novo: Deus es¬tava certo!

Ao terminar o livro, sorri comigo mesmo e pensei: "Ago¬ra, pego o Senhor!", eu dizia. Voltei novamente à presença de Deus e disse:

- O Senhor não tem mais desculpas em não deixar-me ir. O tempo já cumpri, filhos já tenho, o livro já escrevi, e agora? Perguntei-Lhe com ar de vitória.

Então o Senhor replicou:

- Falta uma coisa importante, que estais esquecendo.

- O quê?

E Ele me disse:

- Se você for agora, a faculdade, terá de parar. Preciso falar com o juiz, para, ao invés de ir para o Amanari, tu possas apenas assinar, junto ao meu filho, Pe. Marcos Passerini, e assim cumprir sua progressão de regime.

Quando o Senhor terminou, de joelhos caí, a Deus pelo seu amor e provisão, agradeci. E, pela última vez, sempre certo o nosso Deus e Pai, reconheci. Afinal, "todas as coi¬sas cooperam para o bem dos que O amam, dos que Ele chamou de acordo com o Seu plano", diz a Sua Palavra (C.f. Rm 8,28).

Engrandecido seja o Nome do Senhor eternamente. Amém. (Cf. vv. AA., Teologia da ressocialização: Uma Teologia a Partir dos Encarcerados, Antologias, 2007 ¬obra não publicada)

Naquela ocasião, eu havia pensado que seria a última conversa com Deus antes de sair deste lugar. Pois é, me enganei! Após alguns

meses, voltei a dialogar com Deus e, desta vez, cheio de razão, pois já havia decorrido muito tempo desde que o Senhor prometera que falaria com o juiz, para que eu pudesse assinar junto ao seu filho (Pe. Marcos) cumprindo, dessa forma, a minha progressão de regime (assim eu havia entendido). Mas não foi isso o que ocorreu. Parece que não houve a tal conversa entre Deus e o Juiz das Execuções, pois o magistrado, por muito tempo, não se manifestou. Finalmente, ao fazê-lo, denegou o pedido. Diante dessa situação, voltei com Deus a dialogar e disse-lhe:

- O Senhor prometeu falar com o juiz para me liberar para cumprir o meu semi -aberto, em que eu poderia assinar junto ao seu filho e, no entanto, depois de demorar tanto, quando aconteceu, foi ao contrário.

Deus me respondeu e me disse:

- O meu plano para você é melhor. Você está vendo como ho-

mem, mas eu tenho uma notícia para te dar. - O que é? - perguntei-lhe.

E Deus disse:

- O juiz se equivocou e pensou que você não cumpriu o tempo ainda.

Eu repliquei com impaciência, dizendo:

- Mas Deus, eu já cumpri o tempo e está até extrapolando.

Tenho também uma decisão do STJ me garantindo esse direito! Por que o juiz haveria de dizer que não tenho o tempo objetivo para a concessão da progressão?

E Deus me respondeu:

- Filho, como te falei, tenho plano para você. Você vai sair daqui para o "C.E.U:: onde vai ser a sua casa. Vou providenciar para que possa pernoitar aqui no IPPOO-I1, ao invés do Amanari. En¬quanto isso, você escreverá mais um livro, onde contará o final feliz dessa história.

Ao que retruquei:

- Como posso pensar num outro livro, se o primeiro, com a Turma, sequer foi publicado? Além do mais, não tenho assunto e es¬tou desanimado com essa história de ser escritor, pois é muito difícil ordenar as ideias.

Porém, Deus me disse:

- Você já esqueceu do concurso de monografia do qual parti¬cipou? Por que não aproveita o tema e a sua experiência vivida "in loco" durante esses sete anos de encarceramento?

Ao que aceitei, novamente, o desafio de escrever mais um livro intitulado: "Penas mais rígidas: justiça ou vingança?': Esta é a última conversa que tive com Deus na prisão, certo de que, mais uma vez, Ele tem razão e estou equivocado.