Dizem os cientistas…

Ou pelo menos pensam que tudo deve ser explicado, porque o que não tem explicação não existe…

E assim desta forma desde que ganharam o respeito da sociedade que avalizam o que é ou não real, sendo que o que não é real e é aceite pelo povo eles vêm tal como algo folclórico, ou algo meramente cultural que não deve ser levado demasiado a sério…coabitam com tal, mas não o levam demasiado a sério, porque o sério, o plausível é aquilo que a sua ciência justifica…

E assim, alicerçados neste moderno axioma se fecharam em torres de marfim inacessíveis onde conceitos como a alma ou a espiritualidade não entram pela simples razão que não se pode provar cientificamente que existem…porque se admitem a existência de uma alma ela passa por ser mais uma forma de energia…depurando-a do seu efeito real…porque para a maior parte deles um homem ser crente de uma divindade tal passa por ser o maior dos pecados lesa ciência…sim…ele deverá ter fé em descobrir algo, em tornar claro mais um fenómeno sem explicação, e fora deste quadrado a fé é algo de ainda mais estranho para eles como de estranha é a sua figura de cientistas para a população em geral…porque se um deles desanima é porque o seu trabalho de descoberta ou de confirmação de uma descoberta entrou por um beco sem aparente saída…e assim o seu campo de descoberta acaba por ser um quadrado bem fechado precisamente porque a espiritualidade fica à porta, quando deveria fazer parte do processo…se calhar pensam que a espiritualidade vai contaminar a sua insenção, pensam que tal vai acabar com a sua imparcialidade, porque se a ciência é o seu campo e sendo a ciência algo de universal à humanidade, sem fronteiras de qualquer espécie, ter uma fé seria como ter uma fronteira dentro de si…e assim ao descartarem a fé estão por seu turno a estabelecer uma gigantesca fronteira entre eles e o homem cuja ciência deve servir, porque a humanidade é uma espécie que se caracteriza em termos globais pela sua espiritualidade que se manifesta das mais diversas formas, porque muitas vezes esta se guia pelas emoções e não somente pelo raciocínio…

E assim eles que possuem uma mente aberta a tudo negam à priori uma espécie ciência que desconhecem…ou não querem de todo conhecer…

E assim a maioria deles diz ou pensa que Deus não existe, não apenas por falta de fé, mas apenas por uma mera evidência teórica da ciência, porque nela Deus não tem lugar, não se enquadra nas suas fórmulas, nas suas equações matemáticas, no seu racionalismo, na sua lógica, nas leis através das quais tentam explicar tudo, tentam que tudo tenha uma lógica à luz da sua religião que é a ciência…

E como Deus ou a sua existência não estão numa tabela periódica ou se pode aquilatar através da visão do mais sofisticado microscópio ou telescópio, se não se vê não existe…nem quando todas as soluções se esgotam, nem quando as respostas não surgem ou quando algo carece de facto de uma explicação e a dúvida se instala a suprema dúvida da existência de algo que os transcenda não só naqueles momentos mas sempre para sempre é uma hipótese que teimam em não aceitar…

Como acham que não há qualquer tipo de axioma que justifique a existência de Deus, repararam que no final de todas as fórmulas os resultados podem ser diversos, e por vezes aleatórios e um pouco loucos como na física quântica, mas não encontram de facto nada que justifique a presença ou o sentido de um Deus…

Mas…

Eu um dia também vivi o agnosticismo e o ateísmo desses cientistas, entendo a sua lógica de pensamento, mas acho que tanta lógica retira lugar à emoção…Tanto racionalismo limita a sua dinâmica de pensamento…

Eu sei porque já pensei como eles…

Mas aprendi que a vida é um campo demasiado belo e demasiado sensitivo para a limitarmos a ser meramente explicada, racionalizada…

Porque há uma altura em que nos devemos guiar não pelas leis, não pela razão, mas sim pelo que sentimos…

Porque quem se guia só pelas leis e pela razão da sua programação lógica são as máquinas…

Porque não há fórmula, não há matemática alguma que explique um sentimento, que defina uma sensação…

Se há alguém que pode fazer tal serão porventura os poetas…

Apesar de espiritual, sempre que vejo algo de novo tento explicar de imediato tal à luz da ciência, tento encontrar o seu sentido na ciência, isto numa primeira fase…porque quando as coisas de facto não possuem um sentido deixo a mente ir para certos locais…deixo-me guiar através dos caminhos das sensações puras, das emoções, deixando as ciências e as certezas à porta desse caminho…

Porque apesar de ser também lógico e racional não sei explicar a minha crença num Deus…A única forma de o explicar é o facto de sentir um algo de intenso e ao mesmo tempo suave, um algo que não consigo explicar quando o sinto…

Perante os cientistas, ou pelo menos boa parte deles, este sentir seria algo de ilógico, de irracional…

Mas esses cientistas fechados nas suas certezas jamais entenderão o apelo de algo, não com voz, que não acredito que Deus fale comigo, simplesmente uma presença, um algo que sei que existe porque o sinto…e que eu saiba matemática alguma, equação alguma consegue traduzir tal…

Porque testemunhei coisas na primeira pessoa que a ciência pura e simplesmente não consegue explicar nem anda por lá perto…porque vi parte dessas coisas ainda na minha condição de não crente e pura e simplesmente fiquei sem saber o que dizer, perante a transcendência de tal…

Porque por vezes o belo, o sublime não tem que ter necessariamente uma explicação…existe simplesmente porque o sentimos e não porque um processo químico interno do nosso organismo fez com que achássemos tal imensamente belo…

Um dos mais celebrados cientistas da história, um deus para muitos dos cépticos teve algumas frases curiosas que eles curiosamente ignoram, quando o citam em tudo o resto…:

“A luz é a sombra de Deus…”

“As coincidências são a forma de Deus se manifestar…”

Não digo nem que concordo nem que discordo com essas frases, limito-me a citar essas frases precisamente porque vieram da mente de um homem que ao mesmo tempo tentava decifrar os mistérios do universo, do tempo, do espaço…

Porque não sou do tipo de acreditar na intervenção de Deus, que é ele que condiciona as nossas vidas, os nossos destinos, que é ele que vela pela humanidade e demais coisas que outros crentes subscrevem mas eu não…

Acredito em Deus porque houve uma altura da minha vida em que o senti, porque a partir dai me sinto acompanhado quando estou sozinho e quando me quero sentir acompanhado, porque cheguei à conclusão que de facto nem tudo tem ou terá necessariamente uma explicação, porque a lógica e o raciocínio não são as leis absolutas do universo…

Se houver uma lei absoluta será a lei das sensações…

Porque a ciência pode explicar a atracção sexual mas é incapaz de explicar o amor como sentimento…

Porque a ciência pode explicar o ódio, mas será capaz de explicar realmente o que ele é…

Porque a ciência por exemplo jamais explicará a sensação de prazer que temos ao ver quem amamos, a sensação que temos quando tocamos essas pessoas, uma sensação que pode durar o resto da vida mesmo que nunca mais voltemos a tocar essas pessoas…

E acredito apenas porque o Sinto…

Porque a ciência pode um dia explicar tudo ou quase tudo, mas duvido que possam remeter o amor a uma razão, explicar o amor numa mera equação…

Porque no dia em que tudo for racionalizado as coisas passam pois a serem muito, demasiado estranhas…

Porque quando olho o céu à noite tenho vontade de o pintar, vontade de o explicar ao mesmo tempo em que tenho simplesmente uma vontade enorme de o ficar a ver em silêncio e a sentir esse céu…sem palavras, sem nada, limitar-me meramente a sentir esse céu…

E eu sei que nada disto cabe nas mensagens que enviamos para o espaço e que um dia serão o nosso legado depois de nos termos extinto e depois de uma consciência extra terrena a receber, porque sei que alguns dos sons enviados para o espaço profundo foram gargalhadas ou os primeiros registos de humanos recém-nascidos, sei que isto nada significará aos seres da ciência que irão receber e tentar interpretar, mas sei que estas são as nossas marcas mais personalizadas de hoje e de sempre enquanto espécie, são, não o podem ser interpretadas ou avalizadas cientificamente, sei, simplesmente porque as sinto…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 21/11/2011
Código do texto: T3348209
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.