Cansaço
Cansada. Cansada de tudo, cansada de todos. Da vida medíocre que levava, dos amigos que a condenavam a cada erro (eram seus amigos mesmo?), dos exageros da mãe, do distanciamento do pai, das perguntas indiscretas das tias, do comportamento promíscuo das colegas de trabalho,das roupas feias e velhas, do funk que as pessoas ouvem no ônibus, da conversa que as velhinhas insistem em puxar no metrô, do próprio metrô, do trânsito, do professor que fala, fala, fala e não se consegue entender porcaria nenhuma, do namorado que só reclama, do melhor amigo que nunca aparece, de não ligar para sua saúde, de ser pressionada a ser uma profissional melhor, uma aluna melhor, uma pessoa melhor. “Você tem que ajudar uma pessoa sempre que ela precisar!” Tem que ajudar é a infeliz que pariu, estava cansada de se colocar sempre em último lugar só para agradar/ajudar/ajeitar/engolir sem mastigar a vida dos outros.
Pro inferno todos que a queriam ver por baixo, estaria sempre por cima, de salto agulha para pisar na cara de todos eles assim que escapasse daquele tormento que era sua vida, se é que podia chamar de sua. Correu, tossiu e cuspiu o resto de vida alheia que a sufocava na calçada.