A minha Anabela que tem cor de canela

Resolvi falar das minhas duas filhas que eu tanto amo: a primeira é a Ana, hoje já tem vinte oito anos . Ah! Eu já sou avó.

O filho dela é super elétrico igualzinho à mãe dele. O interessante que ele pisa no pé dela igualzinho como ela fazia comigo.

A criatura é bonita, parece um pouco comigo de rosto. Sou uma mãe coruja ou não sou? Ela tem uma cor linda de canela como a Gabriela do livro de Jorge Amado. Isso ela puxou do pai, além da cabeça grande, as mãos, os pés e as orelhas. O temperamento explosivo vem de uma tia.

Na verdade a criatura tem talento para desenhar. Isto veio da minha mãe. Ela sempre me disse:

-Jamais vou ser professora como você, para ganhar o seu salário miserável.

Só que ela jogou pela janela a chance de ser uma Economista bem sucedida e hoje ela é uma Escultora talentosa desconhecida.

Ana, os seus sonhos são maravilhosos: mas não se vive de sonhos. Na verdade a vida é bem diferente do que a fantasia.

Para você chegar a ser uma artista reconhecida é muito difícil. Infelizmente você não é nenhum Michelangelo ou Leonardo da Vinci. Pense que Van Gogh só ficou conhecido depois que morreu. Hoje ele seria milionário, mas não se esqueça, que ele ficou pirado. Existe o Dalí e o Picasso. Mas minha amiga, você não é nem espanhola nem Modernista!

Eu queria ser psicóloga, porque acho que as pessoas tem algo super interessante dentro delas, que me fascina. Como elas se comportam e vivem. Hoje sou apenas uma desempregada no indice da Alemanha.

Acredito que consegui o que eu queria, uma família, porque a minha era um caos. A profissão ficou para trás. Gosto sim: de ser dona de casa, mãe e esposa, isso satisfaz o meu Ego.

"Não tenho tudo o que quero, porém consegui e amo tudo que possuo".

Sonhos ainda tenho, quem sabe um dia ficar um pouquinho conhecida com o meu atual hobby de escrever. Não faz mal se for de segunda ou terceira classe, sou humilde. Se conseguir publicar algum livro ficarei super realizada. Se não conseguir, eles ficam como recordação para as filhas e os netos.

Ana: quando você era pequena, talvez eu tenha sido com você como os meus pais foram comigo. Por isso, peço desculpas. E aquela que eu abandonei você? Sai dessa ô meu!

Você já tinha quatorze anos e não estava nem aí para mim, além de me maltratar.

Acredito que num relacionamento ruim, cada uma das duas partes tem cinqüenta porcento de culpa.

Duas pessoas que tem a mentalidade, o modo de pensar diferente e de agir: uma fica dizendo para a outra que a outra é culpada e vice-versa. Aí fica um círculo vicioso que não tem mais fim. Isto é o que nos conteceu.

E penso que é uma pena você não ter nenhum interesse na Clara, nem em mim e nem deixa que o meu neto tenha um bom relacionamento conosco. O tempo passa e você não aproveita, a nossa passagem pela vida é curta e rápida

Vou lhe contar que um dia uma amiga me perguntou se eu acreditava em alguma coisa e eu lhe disse:

-Eu acredito em mim.

Aí ela me perguntou:

-Você é atéia ou à-toa?

E eu repondi:

-Eu sou à-toa .

Eu, minha querida não acredito nem em alma, nem em nada e nem em outra encarnação. Para mim a gente vive uma vez e pronto.Vivemos bem ou não, acabou. Quando se morre, adeus, é igual o que acontece com formiga ou com o elefante.

Só te digo uma coisa que sempre repeti para você:

-As únicas pessoas que me interressam no Brasil são: você e meu neto.

Sinto muito não ter um bom relacionamento com você, mas o que posso fazer? Em um relacionamento existem duas partes, a minha há e a sua cadê?

Não adianta bater na mesma tecla do piano, não tenho muitas esperanças, elas se foram. Resta só lamentar e tentar ser feliz .

Por um lado fica faltando você?

Ana espero que um dia você leia este capítulo. Depois, quem sabe você me aceite e me trate decentemente? Não querendo só a minha grana. E também sem fazer os seus famosos e conhecidos escândalos.

Isso, eu tenho certeza, só pode ficar resolvido dentro de você mesma.

Mesmo assim:

Feliz Dia das Mães! Coisa que você não me deseja há muitos e muitos anos.

Dora Bonacelli
Enviado por Dora Bonacelli em 02/01/2007
Reeditado em 06/03/2018
Código do texto: T334374
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