Momento no café
- Einen Kaffee, bitte. Assim começou sua manhã. Um café. Mais forte que si mesma. Mais doce que seu dia. Um café. Pela janela, observava atenta aqueles que andavam sem olhar para frente. Dessa forma se encontrava. Não olhava para o que vinha adiante. Não tinha coragem.
- Um café, por favor. Precisava apagar as mágoas. Não tinha ressentimentos. Apenas vazio. Uma tragada e esquecia. Quase a última. Não lembrava. Não sorria, como da última vez. Não amava como da última vez. Perdeu seu senso de autopiedade. Tentou mudar. Ainda havia resquícios de esperança naquele corpo frágil. Mal conseguia se sustentar. As pernas, já estafadas, davam sinais de cansaço. Voltar, jamais. Não queria. Melhor, não podia. Tinha plena consciência do que havia feito. O remorso ruía suas entranhas.
Já tarde, a dor lhe trouxera esparsas reflexões sobre si mesma.
- Esperta. Apenas me usa. Reclusa. Meus dias não a tornam mais próxima, mas sim soberba. Não fumarei mais. Não. Apenas pensarei. Não sei por quê. Pensarei. Nos dias. Nas noites. Sei. Não vale mais a pena. Entrego-me, com os escárnios infortúnios fortuitos. Fracassada. Ela, não eu. Não reconheço a mim mesma.
Einen Kaffee. Só assim apagaria o rancor. Amargo, por favor.