EDUARDO
EDUARDO
Estava acordado desde as primeiras horas da manhã. Quando ficar na cama já se tornara insuportável, levantou e preparou o café ... a salada de frutas salpicada de aveia que ambos apreciavam ... as torradas ... e o próprio café .... forte como deveriam ser hoje, pensou. Sim, seria um dia de prova, de respostas. Na verdade, da sentença que determinaria o futuro. Estava sentindo muita raiva da vida, do seu passado, de si mesmo ...embora tivesse que cobrir esse sentimento por uma aparência de calma, de tranqüilidade, quase despreocupação .... Devia isso a ele. Devia tanta coisa ....
Era normalmente uma pessoa de bem com a vida, alegre, disposto a enxergar o melhor de tudo, de todos. Isso até o último dia dois de setembro, quando os primeiros sintomas se revelaram. No início foram as constantes dores de cabeça, seguidas de calafrios e de uma febre persistente. Depois vieram os outros sintomas, um a um confirmando uma verdade que ele não queria aceitar e Mario parecendo não perceber (ou será que também estava negando ?) Uma realidade que não poderia ser mais perversa, pensou. Seu pior pesadelo havia se convertido numa triste realidade ....estavam felizes, trabalhavam, viajavam, liam, iam ao cinema, ao teatro, faziam trabalho voluntário (ele na Santa Casa e Mário, no Ancianato Luz da Aurora), enfim viviam felizes e agora .... agora era preparar o café , parecer natural, alegre e juntos esperarem o resultado. Um resultado de que ele não tinha dúvidas, conhecia cada sintoma dessa doença terrível, presenciara em tantos amigos e também em Silvia, sua irmã. Com ela, vivenciara todos os dolorosos momentos até o instante final. E desde então, como uma sombra, essas lembranças o faziam valorizar tanto a vida, agradecer cada dia o fato de nenhum indício ter aparecido. Até agora!