Retratos Do Cotidiano: Virgindade Custa 15 mil.
A cidade onde nasci é uma singela moldura para cenas pitorescas...
Imagine um senhor viúvo conhecer uma mulher de maior idade, porém mais jovem que ele, mas o amor arrebatou-os em um romance cinematográfico.
Os amigos diziam “é amor pra cem anos”, “mesmo que unha e carne”... Os invejosos comentavam em fofocas “não dou três meses”, “oxe, ele dá conta dela não”...
Acompanhados sempre por olhares alheios seguiam os dois a amarem-se tendo no coração, em letras garrafais, “ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE”.
Pois é, caros amigos, todos parcialmente acertaram e erraram: não durou cem anos, mas também ultrapassou três meses; eram como unha e carne, sim, mas unhas se desprendem; ele dava conta dela, mas ela não dava conta dele; e a morte não precisou vir para separarem-se, isso aconteceu antes.
E aconteceu porque prevaleceu a máxima “que seja eterno, enquanto dure”. Durou até que o amor se foi do mesmo jeito que veio – de supetão!
Ah, mas não por ai...
Quer conhecer um inimigo?... Tenha um(a) ex!
Lembrou-se a mulher que o tal viúvo a tirou da casa do pais e, embora nada tenham construído juntos, ela exigia um “recompensa financeira” para os anos dedicados a lavar cuecas, preparar o feijão sem coentro, as noites perdidas pelo roncos agudos... A lista de argumento era enorme.
Em contra-partida, justificava o viúvo, que ela veio morar com ele porque quis, que gastara os olhos da cara em apliques, roupas, quatrocentos pares de sapatos, cremes para isso, para aquilo, para aquilo outro...
Bem, como a conta não fechava e a peleja continuava, resolveram levar a situação para o fórum (em cidade pequena tudo se resume a “vou levar pro juiz”).
E o referido juiz era um cidadão vindo de outra região do país e cultivava a fama de arrochado.
Cada um apresentou seus argumentos, porém ela tinha uma informação guardada a sete chaves: o cabaço!
No meio da audiência, ela pede a palavra e revela no tom de cólera “eu tinha cabaço e ele arrancou!”...
(Silêncio na sala...)
O assessor do magistrado, que desconhecia o termo, sopra-lhe no ouvido a tradução: cabaço = virgindade.
Não tardou e veio o veredito: teria o homem que indenizar a mulher em 15 mil reais!
O homem não titubeou e recorreu. “Onde já se viu uma coisa dessa?!” - pensava.
Encontra-se o caso nas estancias superiores aguardado parecer.
Até que saia em definitivo a decisão, encontra-se a mulher de posse de uma casa do ex no valor de 150 mil reais morando confortavelmente com o atual marido.
Fico cá, pensando... Tenho um amigo próximo que, se a moda pegar, de cara ele já estará devendo uns 120 mil só de cabaços as suas respectivas donas.
Eita dívida da moléstia!
Se a decisão for favorável a mulher, dizem as más línguas, que o prefeito da cidade vai taxar em 5% os valores pagos com o próposito de criar uma "instituição sem fins lucrativos" para evitar a extinção do cabaço – bicho, aliás, raro de se encontrar... É mesmo que ver pé de cobra!
* E você que leu... Vai pensando que é lorota, visse!