O circo chegou!
Nasci em São Paulo, no bairro Tatuapé, muito pequena eu já vivia
cantando e ouvindo muito radio. Gostava de imitar as cantoras da época,
Carmen Miranda, Araci de Almeida, Dircinha e Linda Batista eram
minhas favoritas.
E sonhava um dia seguir esse caminho.
Meus pais me incentivam a cantar porem de jeito nenhum, aprovavam a
idéia de um dia eu vir a ser uma cantora profissional. Isso seria um escândalo
Naquela época artista era marginalizado.
No meu bairro, Tatuapé sempre tinha circos e parques de diversões
Morávamos na Rua Triunfo {hoje Rua Pedro Berengarde} em frente à estação da central do Brasil, Quinta Parada e paralela Rua Antonio de Barros, que é uma rua grande e onde havia muito espaço livre e ali os circos e parques de diversão se instalavam.
Era a diversão que tínhamos e toda a vizinhança lotava todos os eventos.
Os moradores da redondeza eram em sua maioria estrangeiros, portugueses, italianos, espanhóis, também havia de outras nacionalidades porem em menor proporção. Quase todos se conheciam.
Como os circos sempre iam e voltavam os seus integrantes acabavam por fazer amizades com os moradores. Quando chegavam alugavam cômodos nas casas vizinhas. Ali ficavam morando durante a temporada que sempre se prolongava por mais de um mês. A programação era sempre bem variada, com uma parte de atrações, como palhaço
trapézio e outras atrações do gênero. A segunda parte era apresentada uma peça de teatro, todas bem tradicionais, que eram muito bem vindas e também muito bem apresentadas, todos gostava e prestigiava os programas do circo.
As crianças filhas dos artistas bricavam na rua com as outras do bairro e logo se tornavam amigas. Um dia uma delas comentou que iria ter uma Hora da Peneira no circo e que qualquer um podia se apresentar. Eu me entusiasmei muito, mas como...
Minha mãe jamais iria permitir minha amiguinha circense me animava e dizia vem comigo, você se inscreve e depois conta para ela. Ela vai permitir.Pensei, pensei e quando dei por mim, já estava me inscrevendo.
Com muito jeitinho contei para minha mãe. A primeira reação foi terrível, achei que ia levar uma surra, eu nunca apanhei, eu era uma criança obediente. Minha mãe se acalmou, aceitou e ate me ensaiou, ela também cantava muito bem principalmente fados
Pois era portuguesa, com certeza. A musica escolhida foi a valsa Numero Um, susseço do momento gravada por Orlando Silva.
Enfim chegou a noite da apresentação. O circo lotado. Eu e minha família que era bem grande estávamos todos ali, na Geral {que era mais barato} eu tremia tanto que achavam que achavam que na hora iria desistir, mas não, ao ouvir meu nome na voz do apresentador subi no palco e acompanhada pelos músicos que também eram calouros, cantei e fui muito aplaudida por todos, eu estava emocionada, ate chorei.
O resultado me favoreceu com o segundo lugar.
Os músicos ficaram em terceiro lugar.
Meu pai não estava presente, ele era motorista de ônibus da linha Penha-Praça da Sé, ao terminar seu turno foi a um bar no centro da Penha, uma praça onde os bondes da linha faziam a volta.
No bar, uns músicos tocavam e comemoravam a sua classificação no circo, dizendo que a segunda classificada fora uma menina. Meu pai perguntou se eles sabiam o nome dela, um deles se lembrou dizendo meu nome e foi assim que ele ficou sabendo dos meus quinze minutos de sucesso, que parou por ai, mas valeu como lembrança das minhas peripécias no Tatuapé.