O OPERÁRIO PADRÃO O URSO POLAR
O Osvaldo era funcionário antigo, ingressou na Empresa Pública ainda rapaz com 18 anos, através de um bilhetinho de sua tia que nutria certa e constante amizade com o Diretor da citada Empresa. Até a Constituição de 1988 a maneira de ingresso no serviço público era por indicação, troca de favores e que tais.
O tempo foi passando e o Osvaldo foi ganhando a confiança de seus superiores e melhorando sua posição na Empresa, pouco letrado, tinha apena o curso primário, mas com disposição para trabalhar e principalmente com uma fidelidade canina aos seus chefes, logo conquistou a admiração dos superiores e a inveja de seus colegas.
O Osvaldo pela sua descendência nórdica e pelo seu imenso tamanho era mais conhecido como ‘’Urso Polar’’. Depois de cinco anos o Diretor que ainda mantinha aquela amizade com a tia de Osvaldo se aposentou, não sem antes colocar o sobrinho num cargo de chefia. Os governos se sucediam, entrava Diretor saía Diretor e Urso Polar sempre na chefia de sua divisão, ninguém mexia com ele era respeitado por uns e temido por outros, sempre no seu papel de obedecer aos superiores e escorraçar seus comandados.
As alterações no serviço público tornaram-se constantes, mudanças para fazer a maquina estatal tornar-se mais ágil, os Diretores da Empresa que invariavelmente eram parentes de algum figurão colocados ali para se aposentarem, foram trocados por jovens executivos com padrinhos políticos e principalmente com idéias novas.
O Diretor agora tinha 30 anos e chegou para reestruturar a Empresa, aliás, sempre tem alguma metodologia na moda: Reengenharia, Cinco S, Kanban, Terceirização, Qualidade Total, etc. O certo é que o Diretor chegou com todo o gás, ávido para realizar mudanças, de nada adiantou presteza e a fidelidade de Osvaldo, o homem queria era eficiência e eficácia no trato com a coisa pública vinha determinado, nada o faria mudar de rota. Para começar cargo de chefia só para quem possuísse curso universitário, também não admitia tratamento na Empresa por apelidos, bateu logo no Osvaldo que junto com outros na mesma situação perdeu a chefia e o apelido.
Nosso amigo Urso Polar, ou melhor, Osvaldo, perdeu seu poder, agora voltaria a ser um qualquer depois de 18 anos como chefe, o que fazer? Procurou um setor para trabalhar, mas ninguém queria problemas. Correu pro Sindicato e entrou com uma ação trabalhista para manter a chefia, conseguiu pouco depois ficar como chefe, mas sem ninguém para chefiar, ou seja, manteve a sua comissão e como não tinha mais trabalho resolveu que não iria a Empresa.
E assim foi por alguns meses até que o Diretor deu por falta dele e o convocou para uma reunião. Osvaldo ‘’Urso Polar’’ compareceu na hora marcada foi abrindo a porta e entrando na sala do Diretor:
- Bom dia chefia! Urso Polar se apresentando.
O Diretor se impõe:
- Sr. Osvaldo!! Nada de bom dia, Sr. Osvaldo, o senhor aguarde na sala ao lado que a minha secretária irá chamá-lo no horário da reunião.
Nosso amigo urso sai cabisbaixo e aguarda na sala, o Diretor resolve dar um chá de cadeira no Osvaldo para amansá-lo, depois de uma hora e meia manda-o entrar e vai direto ao ponto:
- Sr. Osvaldo o senhor é funcionário da Empresa e tem meses que não aparece aqui, o que está havendo?
- Bem Doutor eu não tenho mais carteira nem cadeira, nem ninguém pra chefiar então o que eu venho fazer aqui?
- O Senhor recebe salário para trabalhar tem que comparecer todo dia!!
- Mas Doutor eu não tenho aonde trabalhar!
O Diretor chateado, sem ter mais argumentos, dispara:
- O Senhor vem trabalhar aqui na Diretoria.
Osvaldo balança a cabeça afirmativamente e vai embora. Na manhã seguinte quando o Diretor chega à sua sala Osvaldo já está lá e grita:
- Bom dia chefia!!
A cena se repete por quase dois meses, todo dia Osvaldo chega cedo e aguarda o Diretor e grita sua saudação:
- Bom dia chefia!!
Certo dia o Diretor não aguenta mais, esquece toda sua formação de eficiência e eficácia produtiva, antes do Osvaldo gritar sua saudação diária, explode e grita:
- Urso Polar!... Vá embora, não precisa vir aqui mais não, desapareça da minha vista,... mando levar o contracheque em sua casa, suma daqui!
Assim o Osvaldo nunca mais foi na Empresa e se aposentou como chefe.