UMA CACHORRINHA HEROÍNA
Quando Fernando tinha sete anos ganhou uma cachorrinha. A data ficou marcada: era o dia das crianças.
Quando sua mãe chegou com uma pequena caixa – cheia de furinhos por todos os lados e com o laço rosa – Fernando correu ao seu encontro. Sabia que o presente era para ele. Abriu e viu que era uma cachorrinha, mas não era a cachorrinha que ele queria, esta era pequena e feia. Ele não queria aquela cachorrinha, ele queria um cachorro bonito e grande, mas sua mãe disse que só tinha aquela cachorrinha.
Para Fernando aquela cachorrinha era feia e ele não queria, mas sua mãe não queria desfazer dela, ficou com ela e colocou seu nome de Mila.
Fernando não gostava dela, desprezava-a; muitas vezes batia nela – ele não gostava dela, para ele era a coisa mais chata do mundo.
Os seus amigos o chamavam para brincar e ela ia atrás; ele brincava de esconder, ela ficava por perto e o denunciava, ficando fácil de achá-lo. Fernando a odiava.
Um dia os amigos de Fernando o chamaram para jogar bola no campo de uma fábrica em construção que tinha perto de sua casa. Mas não tinha jeito, aquela pequena cachorra ia atrás, Fernando queria prendê-la, mas sua mãe não o deixava fazer isso.
Quando a certa altura do jogo a bola caiu no mato do terreno ao lado e Fernando foi buscá-la – o não esperado aconteceu: Fernando caiu num buraco profundo de uns cinco metros. Mila estava por perto e viu. Correu para perto e olhou com os olhos tristes, começou a latir.
Os amigos de Fernando foram embora – pensando que ele havia desistido de brincar – e Mila continuava a latir. Fernando gritava e nada. E a cachorrinha continuava a latir. Mas Mila também se cansou e deitou ao lado, perto do buraco. Fernando já estava lá há duas horas choramingando e comendo terra e ninguém aparecia.
Começava a anoitecer quando a mãe de Fernando chamava-o para o banho e jantar, mas nada de respostas; foi no pequeno campo e estava deserto; foi na casa da vizinhança e nada – os amigos não sabiam informar. A preocupação começou a tomar conta da mãe de Fernando e o desespero junto, já não sabia o que fazer.
Correndo de um lado para o outro e de volta ao pequeno campo gritando pelo nome de Fernando – Mila ouviu a voz da mãe de Fernando e começou a latir – a mãe de Fernando se aproximou. Mila intensificou o latido.
A mãe de Fernando notou que havia um buraco ao lado de onde Mila estava. E lá estava o pequeno Fernando. Rapidamente chamou o Resgate do Corpo de Bombeiro que, com muita dificuldade e depois de uma hora retiraram o pequeno Fernando.
Fernando foi hospitalizado porque – apesar das poucas horas que lá permaneceu – foi o suficiente para comer muita terra. Precisava de uma boa limpeza de estômago.
Dois dias depois Fernando estava de volta em sua casa. Estava ansioso para fazer as pazes com Mila, mas não a encontrava. A mãe parecia esconder alguma coisa dele. Algumas horas depois, Fernando questionou:
- Mãe, onde está Mila?
Ela choramingando, respondeu:
- Mila correu na rua, foi atropelado por um veículo e morreu.
Fernando ficou muito triste porque não houve tempo para fazer as pazes. E, se não fosse ela, ele teria morrido. Mila foi uma amiga para ele, uma amiga de verdade – e seus amigos que fizeram o papel de cachorro.
Hoje Fernando está com dezesseis anos e nunca mais Mila saiu de seu coração.