Velhos tempos em folhas de papel

Hoje, quando passava pelo porão, um velho objeto de escrita me chamou a minha atenção. Era um diário de minha infância. Estava em uma prateleira, todo empoeirado e até mesmo cheio de traças.

Passou pela minha cabeça coisas que eu devia ter escrito ali. Peguei o diário e o levei comigo.

Tentei tirar a poeira com um sopro, mas não adiantou. Então, peguei um pedaço de pano meio úmido e passei pela sua capa.

O abri. Reparei no cadeado arrombado que eu mesma arrombei, pois tinha perdido a chave uma vez. Ao abrir, me deparei com os meus erros gramaticais. O ano desse diário era de 2004. Se não estivesse anotado, nunca me lembraria. Eu tinha apenas 11 anos.

Como a maioria das meninas dessa idade, eu era apaixonada pela boneca da Barbie. Logo, o meu diário também era decorado pela Barbie. Lembro que foi até a minha tia que me deu de presente. Ela também deu um de presente para a minha irmã, mas como ela era muito novinha, mal sabia escrever, só ficava o rabiscando.

A minha primeira anotação ocorreu no dia 05 de julho de 2004, uma segunda-feira. Não sei como chamam hoje, mas eu estava na 5ª série do Ensino Fundamental. Lendo, reparei o quanto eu mudei e o quanto eu permaneço a mesma pessoa a qual escreveu esse diário.

Tímida como sempre. Hoje eu até mudei um pouco, mas a timidez ninguém nunca esquece totalmente.

Gostaria de reescrever alguns pedaços de meu diário, a fim de me dar o prazer de lembrar como era bom aquela época.

"07 de julho de 2004, Quarta-feira

Querido Diário...

... Hoje lá na escola, na aula de português, Imaculada, a minha professora, devolveu as provas corrigidas. Divino Espírito Santo me ajudou. Imaculada disse que só 3 pessoas tiveram nota azul. Eu tirei 3,5, quase tirei nota vermelha, porque a prova vale 7,0 pontos e o mínimo era 3,5, quem tirava 3,5 para baixo é nota perdida.

Ela disse que quem tirou 3,5 passou raspando! O pior que amanhã eu tenho prova de história e inglês e eu tenho que estudar. A matéria de história é difícil, é sobre a pré-história e a matéria é difícil de decorar.

Hoje, eu, Belinha, mãe e Cristiane vimos o filme que se chama "As aventuras do ursinho Pooh". Achei o filme legal, mas eu perdi o desenho animado da TVE, o meu desenho preferido e do meu pai também. O nome do desenho é "As aventuras de Tintim". Eu acho o Tintim um gato! Queria que eles e seus amigos fossem reais para serem meus amigos. Ele é herói, detetive, repórter, bravo, inteligente, astuto e corajoso. E muito lindo também!

Bem diário, é só isso por hoje!

Boa Noite!

2004."

Mal sabia que um dia eu seria apaixonada por história e pela língua portuguesa. Quem diria eu cursando Jornalismo hoje?

Aquela menina pequena, tímida, fechada para o mundo vivia em seu mundo imaginário. Vivia feliz por lá. Não tinha amigos. Meus amigos eram os meus heróis dos desenhos animados.

Mesmo vivendo solitária, eu me sentia feliz. A única preocupação era em tirar boas notas na escola. Não me preocupava com namorados, nem nada do que eu me preocupo hoje. Era um tempo bom.

Como se diz: "eu era feliz e nem sabia..."