O Último dia de Tereza”.

Tereza foi uma das melhores rainhas de bateria que a escola já teve.
O tempo passou, ela não teve tempo de ficar, namorar, casar, pois sua vida era o samba.
Foi sendo relegada a um segundo plano, os calos, as dores nas costas, a celulite.
É... Tereza envelheceu.
Fora da escola, era uma humilde faxineira.
Sua dentadura perfeita foi trocada pela famosa gremalheira (dentadura), mas nada disso a abalou. Todo final de semana, estava na quadra, e não fazia feio, era uma deusa.
Com os cabelos grisalhos e o corpão; já não era mais aquele, mas fazia suspirar alguns coroas, até alguns jovens.
Por incrível que pareça ainda estava tudo durinho, não fazia esportes, o único exercício era o trabalho. Todos a respeitavam, principalmente os patrões. Nunca houve uma saliência por ninguém, só elogios. Naquele dia, após maravilhosa apresentação na quadra sentiu-se mal.
Aquela tontura e náusea começaram a ser freqüentes, até que desmaiou no serviço.
A família toda, que até àquela hora só se aproveitavam dela, viraram serviçais, todos querendo ajudar de alguma maneira.
Por insistência de todos, o Dr. Marçal ligou para um seu colega do Miguel Couto.
Dali a instantes, estava fazendo uma bateria de exames.
Dr. Marçal e Tereza ouviram o resultado do exame que o médico amigo disse:
– Seu problema é grave, na verdade gravíssimo, se houvesse sido feito um tratamento quando começou, a senhora teria chance, pouca, mas teria.
Agora só resta, aproveitar ao máximo.
– Quanto tempo Doutor?
Dr. Marçal falou:
– Por quê? Aproveite a vida mulher!
– Quanto tempo Doutor?
– Dois meses, três, não mais que isto.
Tereza pediu as contas do emprego.
Recebeu uma pequena bolada, pois os patrões foram honestos e bondosos com ela.
Ao invés de chorar, saiu rindo, foi a um restaurante, bebeu caipirinha, entrou no karaokê, cantou e dançou. Foi para casa, fez uma enorme compra, que dividiu com os vizinhos dizendo que ganhou no bicho.
Até namorado apareceu, mas Tereza via como se ele fosse transparente.
Deu um muito obrigada pela gentileza, mas sou comprometida; e era, com o samba!
No sábado, apareceu na quadra da escola como se tivesse rejuvenescido.
Tinha feito unha, cabelo e com um vestido novo branco.
De repente ninguém mais dançava, só olhavam para ela, e gritavam: “Viva!”.
Superando as dores ela dançou como nunca.
Até gringos gritavam “The Beautiful Queen Returns!”.
A rainha realmente tinha voltado, até choro se ouviu. Jogavam flores, de repente ela se elevou do chão sempre sambando.
Começou a reconhecer amigos antigos, todos que já se foram sambavam com ela e sorriam.
Até seu parceiro que secretamente gostava, mas nunca se declarou, pois era namorado de sua melhor amiga.
E foram subindo e ela ria, gargalhava, todos a incentivavam.
De repente aquele salão já não era mais a quadra, e todos dançavam, pessoas que ela sabia, haviam morrido há tempos.
Curiosamente todos usavam branco, acabaram-se os problemas, acabaram-se as dores.
Paralelo a sua alegria, na Quadra alguém arrumou seu vestido e colocou flores ao seu redor.
A rainha havia morrido.
Todos tristes, porém ninguém chorava, ela odiava choro: “Briguem e xinguem, não chorem!
Os anjos entristecem...” O enterro foi um luxo.
Tereza, fez muito costureiro ficar famoso e houve retribuição.
Hoje quando se fala em samba, e fazem comparações: “Depois de Tereza a melhor é...” e “Em algum lugar lá em cima, naquela humildade que ela sempre teve.” ou “Deve ter assumido a faxina de tudo e provavelmente o céu está mais arrumado porque Tereza está lá.”

Esta pequena história é verídica, apenas os nomes não são os mesmos.
A maioria dos astros que faz tanta gente feliz...
Seu final é triste, desamparado.
A memória do povo é curta.
Vale o lema: “Rei morto, Rei posto”.
Quando você se for, espero que tenha feito algo relevante, porque senão.
Será esquecido como todos o são.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 05/11/2011
Reeditado em 01/03/2012
Código do texto: T3319246
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