Um coracão solitário.
Chegou ofegante ao hospital.Mal podia acreditar no que estava acontecendo após tanto tempo.Treze longos anos...Subiu pelo elevador até o andar superior,cruzou um pequeno corredor,e,logo em frente estava uma enfermeira com olhares indagativos a lhe abrir a porta do quarto.Titubeou...entrou.Um silêncio aterrorizante zumbia nos ouvidos,uma solidão secular permeava tudo.A cama com lençóis brancos,o corpo inerte,olhos cerrados,tubos e agulhas perspassando pelas narinas e veias,um cenário de perplexidade.Onde está aquele homem de muitas noites de amor e volúpia? Onde está aquele homem que arrebatou o jovem coração de uma menina vinda do interior? Onde estão as tantas promessas de amor eterno? Onde ficaram guardadas as lembranças de tantos anos de convivência? Para onde foi todo um
vendaval de paixão? Não havia respostas naquele momento.Apenas duas lágrimas indefesas se atreveram a rolar rosto abaixo.Toda uma vida estava ali inerte.E o filho,já moco grande,quando chegará? As desfeitas,o menosprezo,a intolerância já não tinham mais importância.Aquele quadro resumia o que era o ser humano na sua arrogância e orgulho. Nada...O silêncio do quarto,às vezes,era interrompido por um suspiro profundo advindo,talvez,da alma do ser estirado no catre.Cada pingo de soro que caía marcava um tempo determinado,um tempo preciso para a medicina,não para um ser que é corpo e alma.O tempo deixa de existir em certos instantes de nossa vida como se fôramos estrelas cadentes no céu,no infinito do espaço..Ela estava perplexa e impotente.Não havia o que fazer,senão esperar e rezar por quem tanto a menosprezara.*O que será que se passa pela cabeça,neste momento,de quem exacerbou no orgulho e solidão.*-pensava ela. Um calafrio percorreu a espinha e lembrou-se do companheiro com quem vive.Mais uma vez limpou duas lágrimas que deslizavam pelo rosto.Levantou-se da cadeira onde estava,fez uma oração e retirou-se embasbacada com a situação que a vida lhe proporcionava. Ele,pai,não falava com o filho há muito tempo.Puro orgulho Pura arrogância.Tudo isso estava neste momento,ali na cama,dissolvidos num inerte corpo,indefeso,mercê da benevolência de outrem.Atravessou o pequeno corredor até o elevador e desceu os andares mais compridos de sua vida.Todo um mundo,uma vivência se resumia agora numa cama de hospital.Os ares da avenida turbulenta e movimentada trouxeram um pouco de alívio à angústia sufocante no seu peito. *Quem pode ser feliz senão for por amor.*-canta Mariza Monte.Quem pode ser feliz?...