BROTHERS IN ARMS
BROTHERS IN ARMS
O velho relógio da sala marcava sete horas da manhã daquele sábado de sol, quando Armando, finalmente, chegou em casa. A noite de sexta-feira foi longa e agitada, percebia-se no seu aspecto amarrotado, no semblante que denotava um ar de cansaço e satisfação. Seu Amâncio, passarinho urbano, há muito havia acordado e, logo que ouviu o alarido vozes em animado tom de despedida e o ruído do carro se afastando, postou-se à espera da entrada do filho. Na cozinha, dona Madalena cuidava do café e aquele aroma inconfundível exalava por todos os poros da casa.
Aquelas noitadas estavam se tornando torturantes para o casal que, não obstante os conselhos, via o filho levar a vida na flauta, vagabundeando pela cidade em busca de aventuras, sexo e amizades estranhas. Dona Madalena, pesarosa, sempre relevava. Seu Amâncio, no entanto, não admitia tais abusos. Naquela manhã, decidira aplicar um corretivo ao filho rebelde. Assim, o recebeu com aspereza, e o clima pacato da casa ganhou ares de conflito.
Armando dizia-se cansado, queria dormir, estava de saco cheio daqueles sermões. Seu Amâncio se acercava, os punhos cerrados, a voz de trovão, os olhos injetados de fúria. Armando, com hálito de bebidas e nicotina, bradava liberdade e xingava os anunciantes do apocalipse. Buscou o corredor que levava ao seu quarto. Seu Amâncio barrou-lhe a passagem. Agarrou o filho pelo colarinho e ambos caíram sobre o sofá.
Armando, tomado de ira, investiu contra o pai. A essas alturas, dona Madalena acorrera à sala e pedia, pelo amor de Deus, que parassem com aquilo. Aos prantos, segurava, com mãos trêmulas, o terço inseparável. Seu Amâncio desafivelou o cinto. A mulher, prevendo um desfecho terrível, agarrou-se ao marido e clamou piedade. Toda a casa estremecia ao clamor de vozes que rufavam nervosas. Xampu, o poodle, latia impaciente.
Armando buscou a porta da casa. Não ficaria mais ali. Seu Amâncio, exasperado, gritava que ele já ia tarde. Dona Madalena chorava e pedia ao filho que ficasse. Tinha feito bolo para o café da manhã. Armando desvencilhou-se com arroubos de soberba e bateu a porta atrás de si. Atravessou o pequeno jardim com passos decididos. Abriu o portão e martelou a calcada com os saltos das botas. Parou adiante, respirou fundo o ar matinal e contemplou a rua onde o sol se derramava generoso. Pegou o celular e teclou vários números, sem resposta alguma. Onde estariam seus brothers? Qual, dentre aqueles fiéis irmãos de noitadas e folguedos, o acolheria? Quem, em meio a tantas parceiras circunstantes, o consolaria?
Caminhou indeciso, a passos trôpegos. A rua parecia infinitamente longa. Arriscou uma olhada para trás. Vislumbrou o portão, que esquecera de fechar, como o pórtico de um cemitério. A casa jazia em silêncio. Onde estariam seus brothers?...