"Cremilda" A vaca foi pro brejo"

Eu era um rapaz franzino e trabalhava na feira. Por ser magrinho tinha certa facilidade no futebol. Oficialmente jogava em um time do bairro. Mas sempre era convidado a participar de torneios, campeonatos, que sempre me colocava em destaque. Sempre recebia convites para participar de aniversários, casamentos, batizados. Naquele dia, havia jogado muito bem, embora não tivesse feito gol, mas passei diversas bolas e nosso time deu uma goleada no adversário. Todos festejavam a vitória, quando de repente alguém falou- Vamos á casa de meu tio, hoje ele está fazendo uma buchada de bode. No calor da brincadeira , quando dei por mim, estava num pequeno sítio, onde a alegria era geral. Fui colocado em lugar de destaque e o dono da festa também era torcedor de nosso time e me conhecia há tempos. Colocaram para me servir, uma menina moça de nome Cremilda. Ela sempre prestativa não deixava esvaziar meu prato e copo. Com isto fiquei alegre e sua solicitude me deixou entusiasmado. A moça deveria ter quinze anos, tinha treze, Corpo formado, cintura fina, rosto bonito, e dentes perfeitos. Fiz alguns elogios a sua pessoa e ela perguntou se eu queria namorar. Não pensei duas vezes, e ela me conduziu pela mão a uma despensa, nos fundos do quintal. Eu bêbado, ela fogosa, nem preciso dizer o que aconteceu. Fiquei preocupado pela sua experiência, pois ela comandou a ação de princípio ao fim. No dia seguinte fui visitado pelo pai, e dois tios de Cremilda. Muito compreensivos não estavam com raiva, apenas falaram CASA. A minha vida estava desestruturada, trabalhava na feira, não ganhava nada. Tudo foi resolvido, assim que eu ganhasse bastante dinheiro jogando futebol, pagaria a todos. Foi feito um barraco, e uma enorme festa de casamento. Não gastei nada, tudo foi doação de parentes que esperavam em breve me cobrar com juros e correção monetária. O tempo passou, e eu não virei jogador famoso. Cremilda cresceu, seu corpinho de pilão, seu rostinho, cresceram também ficou ma simpatia de noventa e poucos quilos quase cem. Eu continuava mirradinho, numa balança de farmácia, lembro-me de pesar cinqüenta e dois quilos, minha esposa era o dobro de mim. Discussão era toda hora. Eu dizia não provoca, ela dizia tenta me encostar à mão. Meus tios que você não conhece viajariam quinze dias e ficariam com você uma semana, aí você ia ficar magrelo mesmo. As coisas pioraram, ela saía e voltava com duas sacolas de compras, onde arrumou isto? Não é da sua conta. O sangue subiu, falei agora você vai ver uma coisa. Tomei uma panelada destas de ferro, na cabeça, que quase morro, antes de cair no chão, quando consegui me levantar, tomei com um pau de lenha nas costas. A cabeça só fez galo, mas a paulada nas costas quebrou pelo menos duas costelas. Com este barulho todo, uma criança que brincava no quintal gritou, Cremilda está apanhando. Foi como a explosão de um canhão. Saía gente de todas as portas, pois era o que chamam de pombal, e a minha casa ficava nos fundos. De armas em punho, as que identifiquei foram: estrovenga, punhal, machado, foice, cabo de aço, até revolver pipocou. Aquele dia fiz jus a meu apelido de “pé de vento”. Quando saí para rua, caí na mão de dois soldados da força pública, que sorte um deles era primo de Cremilda. Falaram que eu havia envenenado, esfaqueado, enforcado. Bom, minha vida que não valia nada caiu mais em cotação. Estou processado, por danos físicos, morais, corrupção de menor, acho que fico na cadeia mais dois anos. Mas me falaram que se eu matar algum colega de sela posso ficar mais dez ou doze. Só não posso sair, pois Cremilda disse que vai me capar, depois seus tios disseram que vão me matar, é mole.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 31/10/2011
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