Manhã de segunda-feira, salão do aeroporto de Cumbica. Irei mofar aqui umas três horas. O vôo das sete, com otimismo, decolará às dez. Observo a multidão à minha volta, notebook aberto pra disfarçar...Olho e vou classificando: simpáticos, antipáticos, lua de mel, doente, cara de padre, executivo metido a besta, travesti, viajando com a outra...
Aquele cara ali, perto do portão A, tem cara de gente boa. Tão boa que deve ser um péssimo patrão. A jovem mãe, sentada bem a minha frente, como é bonita! E o modo como ele segura o bebê! Um detalhe simples, naturalmente, mas revelador de um coração amável, amoroso. Em compensação, o sujeito mais adiante, vermelho e meio careca, que cara de mafioso!
Caramba! Por que será que tenho essa mania de à primeira vista ir fixando etiquetas nas pessoas? Mistério! Lembro a tempo que este fenômeno psicológico tem a sua recíproca. Julgo os outros e os outros devem fazer o mesmo.
A moça com o bebê e o cara de mafioso, nos olhares de relance, parecem ter boa vontade com o meu ar executivo enfarado (pensei em escrever: distinto). Já o cara perto do portão A, de cara tão boa, dirigiu-me um olhar de aversão instintiva. Será que me acha esnobe por usar camisa social com abotoaduras? Pois ele que fique ciente que sou da mesma massa humana.
Somos todos iguais. Quando nos olham com benevolente estima, mesmo sem razão, achamos isso tão normal. Quando alguém nos detesta à primeira vista, mesmo sem nos conhecer, isto nos ofende mortalmente, como intolerável injustiça.
Que fazer? Melhor aceitar o fato como aceitamos o atraso do avião.
Digo a mim mesmo: nada pode impedir a Terra de girar...nem certas pessoas de não irem com a minha cara!
Impavidamente continuo classificando as pessoas: boas-vidas, Maria-vai-com-as-outras, apáticos, indolentes, negligentes, perfeccionistas, meticulosos, amantes de filigranas... Saguão de aeroporto é fogo!
Assim, como “o que não tem remédio, remediado está”, fico tranqüilo, dou uma guinada em mim mesmo e ponho-me a ler pela internet as especulações sobre a doença inesperada do presidente Lula.
Finalmente o chamado para o embarque! O portal eletrônico da Polícia Federal cismou com a medalha de São Bento do meu chaveiro. Fazendo jus ao exorcismo poderoso da medalha, sou logo liberado: “Boa viagem, doutor!”
Felizmente coube-me uma poltrona no corredor. No meio uma jovem médica gaúcha que a gíria classificaria de “bárbara”, “trilegal”. Transbordante de dinamismo e desembaraço com o senhor ao seu lado, na janelinha. E, além de tudo, bonita. Percebo que dirige uma equipe em hospital de Porto Alegre. Penso que há dois modos de ser médico. Ou se fica mudo como um peixe ou fala pelos cotovelos, de modo que as palavras acabem perdendo a importância. Sendo gaúcha da colônia, está claro que escolheu o segundo método. Com certeza, não duvido, a italianinha sabe guardar importantes segredos, deixando-se aparentemente levar pela tagarelice em torno de insignificâncias.
O senhor de cabeleira crespa que viajava junto à janelinha, contava à doutora, com extremo bom humor os incidentes cômicos de sua vida. Quando a moça o apanhava em flagrante exagero nas suas histórias de pescaria, não se obstinava em sustentar o insustentável, e era o primeiro a rir com ela. Eu, morrendo de vontade de entrar naquela conversa, disfarçava com a cara enterrada na última edição daquela revista semanal. Definitivamente, a humildade é a minha melhor e mais notável virtude.
Ah sim! No desembarque ajudei levando a bagagem de mão daquela jovem mãe que ia abraçada ao seu “tesouro”.
Aquele cara ali, perto do portão A, tem cara de gente boa. Tão boa que deve ser um péssimo patrão. A jovem mãe, sentada bem a minha frente, como é bonita! E o modo como ele segura o bebê! Um detalhe simples, naturalmente, mas revelador de um coração amável, amoroso. Em compensação, o sujeito mais adiante, vermelho e meio careca, que cara de mafioso!
Caramba! Por que será que tenho essa mania de à primeira vista ir fixando etiquetas nas pessoas? Mistério! Lembro a tempo que este fenômeno psicológico tem a sua recíproca. Julgo os outros e os outros devem fazer o mesmo.
A moça com o bebê e o cara de mafioso, nos olhares de relance, parecem ter boa vontade com o meu ar executivo enfarado (pensei em escrever: distinto). Já o cara perto do portão A, de cara tão boa, dirigiu-me um olhar de aversão instintiva. Será que me acha esnobe por usar camisa social com abotoaduras? Pois ele que fique ciente que sou da mesma massa humana.
Somos todos iguais. Quando nos olham com benevolente estima, mesmo sem razão, achamos isso tão normal. Quando alguém nos detesta à primeira vista, mesmo sem nos conhecer, isto nos ofende mortalmente, como intolerável injustiça.
Que fazer? Melhor aceitar o fato como aceitamos o atraso do avião.
Digo a mim mesmo: nada pode impedir a Terra de girar...nem certas pessoas de não irem com a minha cara!
Impavidamente continuo classificando as pessoas: boas-vidas, Maria-vai-com-as-outras, apáticos, indolentes, negligentes, perfeccionistas, meticulosos, amantes de filigranas... Saguão de aeroporto é fogo!
Assim, como “o que não tem remédio, remediado está”, fico tranqüilo, dou uma guinada em mim mesmo e ponho-me a ler pela internet as especulações sobre a doença inesperada do presidente Lula.
Finalmente o chamado para o embarque! O portal eletrônico da Polícia Federal cismou com a medalha de São Bento do meu chaveiro. Fazendo jus ao exorcismo poderoso da medalha, sou logo liberado: “Boa viagem, doutor!”
Felizmente coube-me uma poltrona no corredor. No meio uma jovem médica gaúcha que a gíria classificaria de “bárbara”, “trilegal”. Transbordante de dinamismo e desembaraço com o senhor ao seu lado, na janelinha. E, além de tudo, bonita. Percebo que dirige uma equipe em hospital de Porto Alegre. Penso que há dois modos de ser médico. Ou se fica mudo como um peixe ou fala pelos cotovelos, de modo que as palavras acabem perdendo a importância. Sendo gaúcha da colônia, está claro que escolheu o segundo método. Com certeza, não duvido, a italianinha sabe guardar importantes segredos, deixando-se aparentemente levar pela tagarelice em torno de insignificâncias.
O senhor de cabeleira crespa que viajava junto à janelinha, contava à doutora, com extremo bom humor os incidentes cômicos de sua vida. Quando a moça o apanhava em flagrante exagero nas suas histórias de pescaria, não se obstinava em sustentar o insustentável, e era o primeiro a rir com ela. Eu, morrendo de vontade de entrar naquela conversa, disfarçava com a cara enterrada na última edição daquela revista semanal. Definitivamente, a humildade é a minha melhor e mais notável virtude.
Ah sim! No desembarque ajudei levando a bagagem de mão daquela jovem mãe que ia abraçada ao seu “tesouro”.